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Nº 5821
Opinião

Onde est�s...

DOM FERNANDO IÓRIO * Deus! Ó Deus! Onde estás... É a grande pergunta que angustia o ser humano, hoje mais do que outrora. Inquieta-nos, a cada instante, a pergunta: por que Deus-Amor se esconde, nas horas mais dramáticas da vida, quando é próprio do am

Por | Edição do dia 08/10/2002 - Matéria atualizada em 08/10/2002 às 00h00

DOM FERNANDO IÓRIO * Deus! Ó Deus! Onde estás... É a grande pergunta que angustia o ser humano, hoje mais do que outrora. Inquieta-nos, a cada instante, a pergunta: por que Deus-Amor se esconde, nas horas mais dramáticas da vida, quando é próprio do amor manifestar-se para que todos saibam de sua existência? De uma das mais belas canções de Djavan são estes versos: “O amor, por ser exato/ não cabe em si mesmo/ Por ser encantado/ ele se revela/”. Em Vozes d’África, a indignação diante do sangue do escravo, faz Castro Alves voltar-se para a Divindade com imagens enérgicas e grandiosas: “Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo, em que estrela tu te escondes. Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito. Que embalde, desde então, corre o infinito...! Onde estás, Senhor, meu Deus?...” Conforme minhas reflexões, Deus não se esconde de nós, mas somos nós que, tendo experimentado o vinagre amargurado da maldade, dEle nos escondemos. Ele é aquele perseverante amor a procurar-nos, a cada instante, chamando-nos até pelo nome: “Adão, onde estás? Por que te escondestes?” A resposta da primeira “consciência” criada continua válida para o momento atual: “Porque estou nu”, numa palavra – porque me reduzi ao animal irracional que não se veste, quando deveria conservar-me humano. Só quando o homem se veste, quando recupera sua dignidade, com a veste da graça, sente Deus com maior facilidade, com simplicidade imensa, embora permaneça o Senhor “absconditus”, como mistério. Estava o pequeno Baruc, filho de importante rabino, brincando de esconde-esconde com um amigo. A criança permanece, em seu esconderijo, por muito tempo, sem que ninguém a descubra. Sai, finalmente, em busca do companheiro, dando-se conta de que ele fora embora, sem procurá-lo. Revolta-se o pequeno Baruc e vai, aos prantos, à procura do pai: “Meu pai, eu me escondo e ninguém procurou encontrar-me”. Ao ouvir do filho essas palavras, não pôde o velho rabino evitar que as lágrimas jorrassem, afirmando: “Deus não fala de outra maneira: eu me escondo e ninguém me procura”. São João da Cruz, místico entre os místicos, não hesita em afirmar: “Deus é simplicíssimo, por isso nos ama simplecissimamente”. Ah! Que pena, que dó, homens e mulheres preferimos complicar tudo o que é simples. Para os místicos, Deus é  vida, por isso vivem intensamente; é amor, daí amarem profundamente; é ternura, por isso são carinhosamente ternos; é ar que eles respiram, dentro de si; tão certo como a certeza do amanhã que há de vir. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS

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