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Nº 5822
Opinião

Que democracia � essa?

JOÃO DE OLIVEIRA FILHO * Bem que essa carta poderia ser encaminhada à Justiça Eleitoral, mas prefiro encaminhá-la a esse respeitável meio de comunicação para que a população também questione. Entendo por democracia, sistema político que tem como carac

Por | Edição do dia 11/10/2002 - Matéria atualizada em 11/10/2002 às 00h00

JOÃO DE OLIVEIRA FILHO * Bem que essa carta poderia ser encaminhada à Justiça Eleitoral, mas prefiro encaminhá-la a esse respeitável meio de comunicação para que a população também questione. Entendo por democracia, sistema político que tem como característica a soberania do seu povo, a limitação dos poderes do Estado, a existência de garantias e direitos fundamentais, a prevalência da vontade da maioria e o respeito aos direitos da minoria. As eleições são o momento mais importante para a consolidação e a expressão de uma sociedade que acredita no princípio básico da liberdade. Meu filho tem cinco anos. Procurei durante todo o processo eleitoral explicar a ele o que é democracia e o que significa para nós escolher nossos governantes. Além de falar sobre cada um dos candidatos à Presidência e demais cargos públicos. - João Lucas, você votaria, no Lula, Serra, Ciro ou Garotinho? - Gostei mais do Garotinho, respondeu satisfeito. - Painho, posso ir com você ver a urna de votação? - Lógico que pode, respondi. E nessa brincadeira, ele estava todo empolgado para conhecer a urna e a tal democracia. Assistimos juntos aos debates para governador do nosso Estado e, em nível nacional, para presidente. Seria o nosso dia diferente. Assim deveria acontecer. Colocamos uma roupa bonita, ele me pediu o botton do Lula e colocou na blusa. Infelizmente eu não tinha o botton do Garotinho. Nos dirigimos à Zona 001 – Seção 0221, localizada no Colégio São Luiz, no Tabuleiro. Chegamos ao local de votação às 15h. A fila era enorme, mas isso não nos desanimou, sabíamos que estávamos exercendo nosso direito de cidadãos e, naquele momento, se resumiriam todas as nossas aulas e explicações. João Lucas tomou refrigerante, observou e fez perguntas sobre as várias pessoas que desfilavam com os números, camisas, cartazes ou bottons dos seus candidatos. Dezessete horas, a fila continuava parada, mas tudo bem. Dezessete e trinta a fila continuava enorme, não se movimentava. E nós continuávamos firmes, à espera do nosso momento. De repente, os portões do colégio se fecharam e os policiais avisaram que estava encerrada a eleição. “Como pode? Indagou minha esposa, a lei garante o nosso direito de votar. Eles não deveriam distribuir senhas, ou recolher os títulos para garantir o nosso dever cívico de manifestar nossa vontade na escolha dos nossos representantes?” E mais uma vez. - As eleições estão encerradas. - Não pode ser, temos o direito de escolher as pessoas que vão governar nosso País, nosso Estado. Queremos escolher as pessoas que vão criar as leis que regem nossas vidas. Dezoito horas, dezoito e trinta, chegou a imprensa, houve manifestação, mas não teve jeito. Assim como eu, mais de duzentas pessoas ficaram sem votar. Voltamos para casa, eu, o Lucas e a Sandra, tristes, decepcionados com a democracia. Como explicar ao Lucas? Castraram minha moral de pai de família, castraram minhas explicações de democracia e demoliram minhas expectativas nos processos eleitorais. Ficamos com a amarga sensação de que as eleições não foram verdadeiras. Que democracia é essa? (*) É BACHAREL EM RELAÇÕES PÚBLICAS E LICENCIADO EM GEOGRAFIA.

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