A crian�a brasileira
MILTON HÊNIO * Ontem foi comemorado o Dia das Crianças. Quando você, caro leitor, estiver lendo esta crônica, estarei na cidade do Rio de Janeiro participando do primeiro fórum sobre: Como será a nossa criança no ano 2020? Uma promoção da Sociedade B
Por | Edição do dia 13/10/2002 - Matéria atualizada em 13/10/2002 às 00h00
MILTON HÊNIO * Ontem foi comemorado o Dia das Crianças. Quando você, caro leitor, estiver lendo esta crônica, estarei na cidade do Rio de Janeiro participando do primeiro fórum sobre: Como será a nossa criança no ano 2020? Uma promoção da Sociedade Brasileira de Pediatria e do Conselho Acadêmico da mesma Sociedade que, preocupados com os elevadíssimos números de crianças que sofrem atualmente psiquicamente com os conflitos do mundo moderno, procuram estabelecer normas e aconselhamentos para um viver mais tranqüilo da família brasileira. As agressões psíquicas às quais as crianças estão permanentemente expostas nos dias que correm, devem ser consideradas, ao lado das doenças transmissíveis e verminoses, males evitáveis, desde que a família, como objetivo principal de vida, cumpra a sua missão. Esse é o grande problema. O ideal seria que toda criança tivesse uma infância de amor em qualquer nível social, vivida em um ambiente onde os pais fossem maduros emocionalmente. Como, entretanto, isso é praticamente impossível, pois existem fatores sociais, econômicos, religiosos, filosóficos e culturais influenciando o meio em que vive aquela criança, a situação hoje está complicada. Nós sabemos que o filho depende para desenvolver sua vida orgânica e psíquica dos cuidados que receber e que seu desenvolvimento psíquico tem como base a relação afetiva que existir entre ele e seus pais. É nesse intercâmbio de amizade que a criança edifica sua personalidade e que irá influenciar de maneira decisiva o seu futuro. Assim, todas as atividades, todos os gestos de carinho ou de agressividade, todo comportamento que os pais tiverem diante dos filhos, dependerá sua vida adulta. Serão felizes e realizados ou sociopatas e problemáticos. Aí está o contingente assustador de menores delinqüentes, de marginais de todas as idades, de drogados, enfim, de frustrados e infelizes. Todos, sem exceção, frutos de dramas vividos na infância, da falta de desenvolvimento do caráter. Os motivos são vários pobreza, falta de instrução, abandono, privação materna ou paterna, negligência, maus-tratos (psicológicos e físicos). E todas essas causas têm crescido de forma assustadora na so-ciedade atual plena de contradições econômicas, culturais, sociais e espirituais, em todas as classes e em todas as profissões. São os lares instáveis onde predominam as mentiras, as brigas, os desencontros e a tudo a criança assiste decepcionada e triste pela decadência daqueles a quem ela ama os pais. Então ela se decepciona do mundo. São os lares incompletos, como no caso das mães solteiras, cujo número crescente anualmente amedronta (perto de quatro milhões por ano); são os lares desfeitos, onde a separação dos pais traumatiza demais a criança; são os lares negligenciados, onde pai e mãe nunca têm tempo de cuidar da criança, deixando-a sempre com babá e a televisão; são os lares brutalizados, onde a violência pela embriaguez ou o temperamento do chefe da casa modifica emocionalmente a vida da criança. Pois bem, todas essas crianças, filhos desses lares, em geral, perdem a sua auto-estima e crescem com modificações de seus temperamentos. Umas são tristes, medrosas; outras são tímidas ou, ao contrário, agressivas. À medida que vão chegando à fase da puberdade e da adolescência, começam a enfrentar os seus conflitos interiores e crescem sem bússola, sem comando, explodindo de formas as mais variadas aos encontros da vida. Portanto, como as palmeiras, as crianças devem crescer de modo reto em direção ao céu, tendo sempre a certeza de que na família é o seu porto seguro. Na faixa dos 4 aos 10 anos é a fase onde ela fixa para sempre todos os momentos felizes e infelizes de sua vida e que irão influenciar decisivamente no seu comportamento futuro. Que os pais se conscientizem do seu papel no bem-estar de seus filhos. (*) É MÉDICO