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BOI BAGACEIRO

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Quem na minha idade de vez em quando não se acorda com saudades dos tempos que se foram? Pois é, há muito tempo fui menino de engenho, desses que ainda moíam. Em meu livro Meus Caminhos conto passagens dessa vivência e me lembro agora do papel do boi bagaceiro. Em um dos capítulos, assim me referi mostrando como um menino da cidade vibrava com a vida no engenho: ?Quando da época de moagem, fui moendeiro, ajudante de mestre-de-açúcar, carregador de cana para a mesa das moendas, condutor do boi bagaceiro, enfim dentro do engenho só não fui maquinista e fornalheiro?. ?Como era gostoso sentir o cheiro dos tachos com caldo ferventado e daqueles com o mel no ponto de virar açúcar. Tomar caldo na bica antes do primeiro tacho matava a fome de muita gente. Era animado assistir ao gado se deliciando nos coxos das impurezas a eles lançados quando do processo de limpeza dos tachos ou então a retirar o último caldo dos bagaços tirados das moendas e jogados na bagaceira. Era muito bom deitar e rolar nas montanhas de bagaço que se formavam dentro do engenho, sobretudo quando na brincadeira eu fazia um par bem agarrado com uma das filhas de um compadre?. O boi bagaceiro era sempre destacado da boiada de trabalho, manso, velho e capado, obediente à ordem emanada de um dos meninos que o conduzia até a bagaceira para secagem do bagaço da cana moída. O que melhor se alimentava. Ficava paciente próximo à mesa das moendas mastigando o bagaço ainda com caldo não retirado pelas moendas de então. Pendia do seu pescoço corrente presa a um couro de boi que ao se encher com um monte de bagaço saía arrastando o couro cheio em direção à bagaceira sob a ordem ?Heeeei Distinto?. É, minha gente, boi tem cada nome curioso! Lá ia ele devagar despejar sua carga no local estabelecido pela voz do seu condutor ?Hôôô?. Parava e voltava revirando o couro. Muitas vezes já trazia de volta para dentro do engenho parte do bagaço seco pelo sol. Passavam-se as horas e a labuta pachorrenta era divertida pelo cantar do moendeiro Bigú: ?Oi pinião, pinião, pinião, pinto correu com medo do gavião, por isso mesmo sabiá cantou, bateu asas e voou e foi comer melão?. E adiante emendava: dona Chiquinha é uma mulher inteligente, pegou sete sementes e disse que veio do céu, plantou na cabeça do marido, nasceu galhos tão compridos que virou porta chapéu! Muitas vezes ajudei-o a desamarrar os atios dos feixes de cana e levá-los para a moenda. E assim me acordei com saudades da vida no engenho!

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