31 de outubro
MÁRIO JUCÁ * Nasceu, há 100 anos, em Itabira do Mato Dentro, no interior de Minas Gerais, o nono filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade, o menino Carlos Drummond de Andrade, o mais famoso poeta brasileiro do s
Por | Edição do dia 31/10/2002 - Matéria atualizada em 31/10/2002 às 00h00
MÁRIO JUCÁ * Nasceu, há 100 anos, em Itabira do Mato Dentro, no interior de Minas Gerais, o nono filho do fazendeiro Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade, o menino Carlos Drummond de Andrade, o mais famoso poeta brasileiro do século XX, que viveu entre a especulação cognitiva e a vivência lírica. Drummond, poeta essencialmente discursivo, tem em sua obra a característica forte da capacidade inesgotável de desestabilização do conhecimento e irreverência, como também a capacidade de decifração dos impasses históricos. Ou melhor, Drummond está na obra e não na biografia, porque ele não teve na vida acontecimentos, nem momentos extraordinários, que pudessem velar, por pouco que fosse o seu imaginável legado literário. Cheio de brincadeiras e lorotas, sempre deixava a mensagem de ser um homem comum, chegando a dizer a Humberto Werneck: Fui um rond-de-cuir. Celebrar, comemorar esta data é um privilégio, como o próprio Drummond teve em relação ao centenário de Goethe. E estando aqui no Instituto Goethe brasileiro-alemão em Porto Alegre, arrisco: 100 anos agora Em todas as horas Pode ser recitado Em música cantado... Muita irreverência, E reservada vida levava. Carlito brasileiro, não imitava Espontânea catedral do saber. No céu a Deus encanta Brasileiro de Minas e poeta Brilhante, crítico, ondulante... Da crítica aos trotes, seu viver... Ardia em insubmissão Críticas, crônicas e canção. Drummond um vestal, um culto Enaltecia o viés do oculto. Gozando do alto celebre A inquietude de nós, sem saber. Seres comuns... tudo é igual e requebra Sem ritmo, sem caminho, mas querendo vencer. E hoje fica a mensagem: ler Drummond e não apenas lembrar, porque é atual e rica sua obra, encantadora, que faz o leitor descobrir as reflexões diversas da vida e a razão de ele ter sido cravado na Literatura Brasileira, como uma pedra enigmática, como ele mesmo escreveu: No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra, No meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra Tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. (*) É MÉDICO