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Nº 2
Opinião

Exportando riqueza

Ontem, em sua edição especial de segunda-feira, a GAZETA noticiou os resultados de pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), onde estão contidos números assustadores sobre os dispêndios realizados pelo governo federal. Não é n

Por | Edição do dia 26/02/2002 - Matéria atualizada em 26/02/2002 às 00h00

Ontem, em sua edição especial de segunda-feira, a GAZETA noticiou os resultados de pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), onde estão contidos números assustadores sobre os dispêndios realizados pelo governo federal. Não é novidade a sangria desatada praticada pelo governo FHC a título de pagamento da dívida externa. Isso não só se sabe através de relatórios parciais como se sente pela óbvia evasão de riquezas – refletida pela contradição do aumento da produção e da explosão da pobreza. A novidade está no dimensionamento do prejuízo. Calcular com exatidão o pagamento dos serviços da dívida externa não é tarefa fácil, pois muitos dos recursos são enviados através de intrincadas teias contábeis, tecidas com o nítido objetivo de se dificultar o pleno conhecimento do escândalo. Com algum esforço e muita dedicação técnica, o Inesc concluiu parte de sua pesquisa e indicou que neste segundo mandato de FHC, o Brasil despachou a gigantesca soma de 405 bilhões de reais para o pagamento da famosa dívida externa. O pior é que esses pagamentos, a título de saldar juros e realizar amortizações, são feitos com tal subserviência que não se sabe o quanto se reduz do principal da dívida com tais desembolsos gigantescos. O absurdo, para a cidadania, é o continuado crescimento do principal do débito, mesmo com tais pagamentos realizados. O Inesc, para efeitos de comparação, exemplifica que esse valor de R$ 405 bilhões corresponde ao total do Orçamento de União para todo um ano. Os burocratas governamentais deverão ter suas explicações na ponta da língua e talvez sejam capazes de convencer sobre a insaciável dívida que mais é amortizada, maior fica. O povo tem, novamente, mais uma evidência do que causa a falta de recursos para o social, o abandono da saúde pública, a falta de investimentos na infraestrutura. Com todo esse volume de recursos expatriados, é lógico que vai faltar dinheiro para toda a agenda social. Novamente, o povo termina pagando a conta. A toalha de Penélope DOM FERNANDO IÓRIO * Penélope lembra fidelidade. Tem muito a ver com veracidade. Fidelidade é aquela atitude ética global capaz de constituir sólido pilar sobre o qual assenta, com segurança, a convivência humana. Fidelidade é constante atitude da existência humana que se concretiza em diversos âmbitos do comportamento pessoal e interpessoal. Da fidelidade ao próprio projeto vocacional, até a fidelidade à palavra dada, há muitas situações nas quais tem o ser humano de ser fiel a si próprio e aos outros. A fidelidade não deixa de ser a garantia de nossa retidão nas relações com o próximo, mormente nas conjugais. Caminhar juntos é dirigir-se para um fim superior, transcendental. A comunhão de dois que se amam deve ter perseverante aspecto teleológico, de amor fiel até o fim. Compreende-se por que o amor maduro é, por sua natureza, duradouro na fidelidade. Quem ama percebe o outro como unidade irrepetível e única, no seu modo de ser e nas suas qualidades. Percebe-o como um tu insubstituível em seu valor. A morte pode eliminar a vida terrestre da pessoa amada, nunca, porém, a sua essência. O psicólogo Frankl argumenta: “Suponhamos um homem ao qual se diga: imagine que tenha você perdido sua esposa, por uma razão qualquer. Eu lhe posso oferecer uma cópia perfeita, tanto sob o aspecto físico, como psíquico da pessoa desaparecida. Seria você capaz de transferir seu amor para essa cópia de sua mulher? Se ele realmente ama sua mulher, a resposta será: Não. Não posso amar a cópia de minha mulher, por- que não amava somente esta ou aquela qualidade que ela possuía, senão aquilo que ela era na sua unicidade. Cópia alguma, por mais perfeita que fosse, jamais poderia substituí-la, realmente”. Aquilo que é, sumamente, amado a nada poderá ser comparado. No seu sentido mais autêntico, o amor pressupõe identidade e, por isso mesmo, fidelidade. Apresenta-nos a Mitologia Grega perseverante exemplo de fidelidade. Ulisses, mitológico rei da ilha de Ítaca, após brilhantes feitos na guerra de Tróia, ao regressar à pátria, desviou-se de sua rota, em pleno mar, ficando a vagar errante, por diversas regiões, durante dez anos. São os famosos “errores Ulisses” descritos por Homero, na Odisséia. Na sua ausência e na medida em que ela se prolongava, sua esposa Penélope era assediada por vários pretendentes ao novo casamento, apresentando-se como cópias autênticas do valente Ulisses. Penélope, firme na fidelidade a seu marido, vivo ou morto, afastava todos os pretendentes, explicando-lhes que, somente, se casaria após terminar a toalha que estava tecendo, a exigir prolongado tempo. Sem que pessoa alguma soubesse, destecia, durante a noite, o trabalho elaborado, cada dia. Até que, após prolongados dez anos, regressou Ulisses, o esperado do coração de Penélope, a esposa fidelíssima. Aí está a mitologia grega oferecendo ao nosso mundo desamorizado essa fascinante cena de fidelidade no amor. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS

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