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Nº 5759
Opinião

O TESOURO DO J�DER ARA�JO

Estavam os dois poetas populares em desabalada e esfalfada cantoria, quando o clima de desafio entre os dois repentistas atingiu o ápice da contenda. Pinto Monteiro, um dos repentistas, arreliado por ter recebido de Lourival Batista, seu antagonista, os v

Por | Edição do dia 19/01/2013 - Matéria atualizada em 19/01/2013 às 00h00

Estavam os dois poetas populares em desabalada e esfalfada cantoria, quando o clima de desafio entre os dois repentistas atingiu o ápice da contenda. Pinto Monteiro, um dos repentistas, arreliado por ter recebido de Lourival Batista, seu antagonista, os votos de piores augúrios, respondeu-lhe de pronto: Queria ver o Lourival Morto debaixo de um trem Ou um beco pedindo esmola Onde não passa ninguém E se passar, que seja um cego Pedindo esmola também Essa vigorosa peleja é apenas uma das inúmeras joias preciosas que Jáder Araújo nos legou ao lançar a obra Poetas de Canto a Canto, antologia que veio à lume na quinta-feira passada, lançada em memorável noite não só de autógrafos, como de espetaculares declamações de poesias populares no lotadíssimo Cine Sesi Pajuçara. Remonta a 1972 – portanto, mais de quarenta anos atrás – o lançamento de Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel, de Manuel Diegues Júnior, obra relançada o ano passado pela Cepal, durante as comemorações do centenário do autor e hoje tornada um clássico, sobre essa que Gilberto Freyre considerava uma das mais importantes manifestações da cultura popular nordestina, para nós trazida pelos primeiros imigrantes, que a cultivavam na Península Ibérica em forma de romanceiro popular oral. Desde então, nenhuma obra conseguiu agregar tanta diversidade e qualidade quanto Poetas de Canto a Canto. Como esse espaço é limitado e grande e variado é o acervo dessa antologia, transcrevo apenas um fragmento de um dos poemas de Jáder Araújo, O Bicho Bão é Muié. É o símbolo da perfeição Das obras da natureza Que Deus fez com sutileza Primou na fabricação Escultura feita à mão O autor, poeta e repentista privilegiado, conseguiu o que parecia impossível: no louvável esforço de preservar a nossa cultura popular, presenteou-nos com uma obra cujo acervo pode ser nivelado ao clássico de Diegues Júnior, ressaltando que é uma garantia de leitura gostosa e bem humorada. Tudo o que nós tanto precisamos, pois como afirmava Chaplin, “através do humor, vemos no que parece racional, o irracional; no que parece importante, o insignificante. Ele também desperta nosso sentido de sobrevivência e preserva nossa saúde mental”. Basta ler essa obra para comprovar essa receita. Jáder Araújo, eita cabra bom da peste!

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