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Nº 5759
Opinião

Finados

DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM * O Dia de Finados vem aí. Ele vem carregado de emoções variadas para todos nós, não importam as condições sociais de cada um e depende dos laços que a eles nos ligam. Mas, por incrível que pareça, ele vem também acompanhado e re

Por | Edição do dia 03/11/2002 - Matéria atualizada em 03/11/2002 às 00h00

DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM * O Dia de Finados vem aí. Ele vem carregado de emoções variadas para todos nós, não importam as condições sociais de cada um e depende dos laços que a eles nos ligam. Mas, por incrível que pareça, ele vem também acompanhado e repleto de esperanças. Ele nos evoca a lembrança saudosa de nossos familiares e amigos que partiram desta vida. Ele enfim, nos coloca, irresistivelmente, diante da realidade da morte, da qual ninguém pode fugir. Na verdade, há diferentes maneiras de se posicionar diante do Dia de Finados e, conseqüentemente, de celebrá-lo. É muito significativa a variedade de nomes dados aos nossos cemitérios. Eles refletem os sentimentos comuns e as convicções da maioria das pessoas e das gerações sobre os mortos. Citemos alguns: Campo Santo, Campo da Saudade, Parque das Flores, Jardim da Paz, Jardim da Esperança. Respeitando as convicções e os sentimentos de cada um, o nosso modo de pensar e sentir é, sem dúvida, a luz da fé cristã que dá à vida e à própria morte uma dimensão que ultrapassa os horizontes do tempo presente. Por isso, preferimos dar ao Dia de Finados um outro nome, a saber, Celebração da Esperança. Na celebração dos Mortos, alguns cantos de nossa liturgia retratam na sua simplicidade, com boa inspiração musical e precisão teológica, o que a fé cristã afirma e ensina sobre o sentido da vida e da morte. Limitamo-nos a reproduzir o seguinte: “A vida, pra quem acredita, não é passageira ilusão,/ E a morte se torna bendita,/ porque é nossa libertação”. E o refrão completa: Nós cremos na vida eterna/ e na feliz ressurreição./Quando de volta à casa paterna/ com o Pai os filhos se entrarão. “Em seguida, prossegue com estas palavras: “No céu, não haverá tristeza/ doença, nem sombra de dor/ E o prêmio da fé é a certeza/ de viver feliz com o Senhor”. Sua origem. A comemoração dos mortos. Tem suas raízes na própria celebração da Eucaristia. Nela, desde o início, a Igreja dedicou um espaço especial para fazer a memória dos fiéis falecidos, “daqueles que nos precederam na fé”. Mas a comemoração do dia 2 de novembro tem sua origem no mosteiro beneditino de Cluny com seu abade Santo Odilon. Sua ampla difusão deve-se aos numerosos mosteiros ligados a Cluny e ao estímulo de Bento XV que, em 1915, estendeu a toda Igreja o privilégio das três missas no dia 2 de novembro concedido anteriormente à Espanha. Nossos sentimentos e nossas atitudes. 1. SENTIMENTOS DE SAUDADE. São recordações gratificantes ao nosso coração num esforço de fazer o tempo retroceder e de reviver as alegrias e as consolações que o vento impiedosamente tirou de nossas mãos. Trata-se de lembranças suscitadas pela gratidão a pessoas queridas naquilo que elas mais significam para nós. Ás vezes, são lembranças com sombras de tristezas, acompanhadas de arrependimento ou talvez com o sabor amargo de algum remorso, na espera de um bálsamo de consolação ou busca de separação. A este respeito, vale a pena recordar as palavras de Santo Agostinho: “Ter saudades é comum a todos os homens, mas não podemos ter tristeza, porque a morte é vida para Cristo”. 2. ATITUDE DE FÉ NA RESSURREIÇÃO. Sim, diante da morte prevalece o sentimento de fé que nos leva também a uma atitude de fé na Ressurreição. A morte é sempre para o homem um mistério profundo. Mistério envolvido de respeito também pelos que não crêem. Mas o cristão encontra na fé o sentido da vida e da morte. O apóstolo Paulo afirma: “Se temos esperança em Cristo tão-somente para esta vida, somos as mais dignas de compaixão de todos os homens”. (i Co 15.19). Em outro lugar, ele diz: “Não queremos que ignoreis o que se passa com aqueles que adormeceram na morte, a fim de que não vos entristeçais como os outros, que não têm esperança. Pois se Jesus, como cremos, morreu e ressuscitou, também aqueles que adormeceram em Jesus, Deus os tomará com ele” (I Ts 4.13-14). Enfim, cabe a Jesus a última palavra que dirigiu a Marta: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá. Crês nisso?” (Jo 15.25-26). (*) É ARCEBISPO METROPOLITANO DE MACEIÓ

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