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Nº 5759
Opinião

Semeando poesia

JOSÉ MEDEIROS * “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos Mal rompe a manhã!’” Carlos Drummond de Andrade. As comemorações do centenário do poeta Carlos Drummond de Andrade têm sido das mais expressivas, com medidas que visam perpetua

Por | Edição do dia 06/11/2002 - Matéria atualizada em 06/11/2002 às 00h00

JOSÉ MEDEIROS * “Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos Mal rompe a manhã!’” Carlos Drummond de Andrade. As comemorações do centenário do poeta Carlos Drummond de Andrade têm sido das mais expressivas, com medidas que visam perpetuar ainda mais a sua obra. Se ainda existiam algumas “Pedras no caminho” desse príncipe da poesia contemporânea, elas estão sendo arrastadas pela correnteza de muitas semanas de estudos, painéis, seminários, exposições, reedições de livros e CDs, no curso deste ano do seu centenário. O documentário cinematográfico ‘O poeta de sete faces’ mostra ângulos de sua vida e de sua literatura pouco conhecidos da maioria do público. Sua poesia mexe com a sensibilidade das pessoas. Conseguiu recriar um tempo próprio, o homem aprisionado n seu tempo, por vezes aniquilado pelo cotidiano. Faltava, entretanto, um elo nessa cadeia de acontecimentos. Para que se perpetue uma obra literária é necessário que ela seja conhecida pelas novas gerações, estudada e discutida nas escolas. Com Drummond, cada vez que se aprofunda uma análise mais ampla, novas idéias emergem, surgem, se impõem. Descobre-se o quanto de sentido tem o contexto de seus versos, estrofes e poemas. A Escola Monteiro Lobato, em Maceió, acaba de realizar o 1º Festival de Língua Portuguesa e Literatura, enfocando a poesia de Drummond, com a simpática denominação “Drummondiando o pátio”. O poeta dedicou ao dia do seu nascimento, 31 de outubro, um expressivo poema: “Quando nasci um anjo torto desses que vivem na sombra/ disse: Vai Carlos! Ser gente gauche na vida”. Quem sabe se o poeta não esteve espiritualmente no pátio dessa escola, dirigida pela educadora Vera Tenório? Diz um provérbio chinês: “quando duas pessoas se encontram e trocam um pedaço de pão diminuem a fome; quando trocam idéias cada um leve novas idéias”. Idéias e poesia. Numa época de preocupação e de ansiedade, a literatura, a pintura, a música, as escolas levam em conta que essas atividades extraclasse contribuem para uma educação cultural, sem a qual será impossível apreciar grandes obras da criação artística. De que vale um quadro de Picasso se não se tem olhos para ver e para sentir? Que valor terá um poema-canção de Chico Buarque de Holanda se não há sensibilidade para compreendê-lo? A semente jogada em terreno fértil, germina. Às vezes, não há muito interesse por ela, num determinado momento de vida. Seu ciclo vital se interrompe. Mas, como se fosse determinação da natureza, bem mais tarde, a hibridação termina, a semente explode com todo vigor. No caso da escola, contribui-se para a formação de um currículo instrucional, de conhecimentos acumulados, que vão ajudar no futuro. A poesia ajuda a salvar a condição humana da alienação que lhe vem sendo imposta por uma sociedade cada vez mais tecnificada e impessoal. (*) É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE

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