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Nº 5821
Opinião

Segurar as cal�as

RONALD MENDONÇA * Ao contrário do que vinha acontecendo no período eleitoral, quando as palavras de ordem eram “desconstrução” e “medo”, agora o “Abre-te Sésamo” da política responde pelo nome de “pacto”. Afora as discutíveis exposições diárias do pres

Por | Edição do dia 09/11/2002 - Matéria atualizada em 09/11/2002 às 00h00

RONALD MENDONÇA * Ao contrário do que vinha acontecendo no período eleitoral, quando as palavras de ordem eram “desconstrução” e “medo”, agora o “Abre-te Sésamo” da política responde pelo nome de “pacto”. Afora as discutíveis exposições diárias do presidente eleito, sempre nas fotos aconchegado no regaço do povo, numa espécie de “vejam como ele é amado”, Da Silva – como chamam os americanos – tem se esforçado para pôr em prática parte do que prometeu quando era candidato, no caso, unir patrões e empregados num ambicioso projeto de reestruturação do país. De alguma forma, isso lembra o grande De Gaulle dos tempos de reconstrução da França, no pós-guerra, quando imensos cartazes encheram as ruas e bares levando entusiasmo ao país inteiro com a mensagem: “É hora de arregaçar as mangas”. Por enquanto, patronato e operariado brasileiros não demonstram disposição de recuo, usando, ambos, o mesmo argumento de que não têm mais nada pra dar a não ser o sangue. Exageros à parte, leve-se em consideração também que Da Silva ainda não é um De Gaulle. Por conta desse e de outros impasses, a fase, a despeito da esperança, é também de expectativa, de incertezas. Talvez para aliviar as tensões é que o Legislativo, através do deputado Severino Cavalcante, esteja brincando com o povo ao divulgar que pretende o “pequeno” aumento de 107%. Com isso, os salários dos nobres deputados federais pulariam para 17 mil e caqueiradas. Soma irrisória, é bom que se diga. Deixando de lado o aspecto “pegadinha” da aludida pretensão, todos reconhecem o hercúleo esforço despendido pela maioria dos parlamentares na patriótica e inexcedível missão de representar com dignidade os eleitores, mantendo a honra “até sob tortura”, sendo, portanto, ínfima, qualquer quantia paga. A missão é espinhosa demais. Recordo de uma singular entrevista radiofônica, ainda nos tempos da ditadura, em que um deputado federal – de oposição - explicava que os altos salários concedidos aos colegas evitariam que eles (deputados) se transformassem em presas fáceis da venalidade. A “bunfunfa” grossa atuaria como vacina contra a corrupção. O entrevistado não disse, mas deixou nas entrelinhas que, se ganhando pouco, ter-se-ia motivos de sobrapara prevaricações. O quedizer então de juízes, auditores, médicos, professores,jornalistas etc., esses não precisam de salários justos? De qualquer forma, sabe-se que a insatisfação é da natureza humana. É por isso que, brincadeira ou não, a história do aumento aos parlamentares já está na rua e, pelas reações, não se achou muita graça. Se não se tomar cuidados, corre-se o risco de o pacto resumir-se em alguém entrar com o pé e o povo entrar com as nádegas. (*) É MÉDICO E PROFESSOR

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