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Nº 5759
Opinião

Serrando Oswaldo Cruz

Entre 1997 e 2001, o governo FHC cortou 71,5% das verbas destinadas a erradicar em todo País o mosquito transmissor da dengue. Dos R$ 248,5 milhões planejados, foram aplicados apenas R$ 70,9 milhões. Um verdadeiro incentivo ao Aedes egypti. O resultado n

Por | Edição do dia 27/02/2002 - Matéria atualizada em 27/02/2002 às 00h00

Entre 1997 e 2001, o governo FHC cortou 71,5% das verbas destinadas a erradicar em todo País o mosquito transmissor da dengue. Dos R$ 248,5 milhões planejados, foram aplicados apenas R$ 70,9 milhões. Um verdadeiro incentivo ao Aedes egypti. O resultado não tardou a se manifestar e o Rio de Janeiro é o epicentro da explosão da dengue. Essa redução das verbas projetadas é reflexo de uma decisão política, onde está claro o quanto vale a saúde pública para FHC e José Serra, que não pode deixar de ser citado como parceiro nesta nefasta flacidez governamental no combate a uma moléstia conhecida e mapeada. É particularmente educativo visitar a história para entender o quanto o Brasil retrocedeu em termos de políticas públicas. Empossado como presidente da República em 1902, Rodrigues Alves estabeleceu como uma das prioridades de governo a erradicação de uma série de moléstias que infernizavam a vida do Brasil e tinham como seu ninho de morte o Rio de Janeiro, então a Capital da República. Atendendo a critérios técnicos, Rodrigues Alves nomeou para a Diretoria Geral da Saúde Pública (não existia o Ministério da Saúde) o médico Oswaldo Cruz, que havia se especializado no que chamaríamos hoje de sanitarismo, de 1897 a 1899, no mais conceituado centro de pesquisas médicas do mundo, na época, o Instituto Pasteur, de Paris. A decisão do presidente Rodrigues Alves manteve-se férrea em apoio a seu auxiliar, que foi duramente perseguido pelas “estranhas” idéias de combater sem tréguas um mosquito e de realizar uma campanha maciça de vacinação obrigatória e, além disso, Oswaldo Cruz gastou “uma fortuna” para equipar o principal centro de pesquisas médicas do Brasil daqueles tempos. A firmeza política deu retorno e entrou para a história e em 1907 o Brasil estava livre da febre amarela (transmitida pelo mosquito), da peste (transmitida pelo rato) e da varíola. A tibieza política desses tempos de FHC e Serra também está dando seus frutos. Podres, infectos e repudiáveis. Encontro JOSÉ MEDEIROS * Cada época tem seus padrões de comportamento, definição de hábitos, costumes, vestuários e até de palavras costumeiramente usadas. É o modo de pensar próprio de cada década dentro da ordenação cultural, estética, social, que resulta em procedimentos e condutas; igualmente, preconceitos e intolerâncias. Se voltarmos no tempo aos anos 1943, poderemos imaginar as reações familiares e do meio social à atitude da enfermeira alagoana Elza Cansanção Medeiros, de engajar-se ao corpo feminino que seguia para os campos de batalha da II Guerra Mundial. Para compreender sentimentos da década de 40 é necessário recordar que a vida transcorria bem mais tranqüila que a de agora. Não havia televisão, computadores, aviões a jato, vídeos, DVDs, condicionadores de ar e a mídia com suas informações. Compreensão bem mais estreita da liberdade individual da mulher. Os avanços guerreiros da Alemanha nazista eram o assunto preponderante. Mas a guerra estava longe, parecia distante. Por isso, o impacto do afundamento de navios mercantes brasileiros, nas costas nordestinas, foi grande. A revolta inicial virou obsessão posterior. O Brasil, que mantinha posição de neutralidade, decidiu engajar-se no conflito. Reflito sobre esse assunto após a leitura da obra “E Foi Assim que a Cobra Fumou”, de autoria da major-enfermeira Elza Cansanção Medeiros, reformada do Exército e uma das primeiras voluntárias a participar da guerra na Itália. Descreve o desenrolar dessas lutas, comportamentos dos soldados e oficiais brasileiros, lances de batalhas renhidas com tropas alemãs. Ocupava um posto de observação privilegiado: o hospital de campanha que atendia aos feridos que vinham dos campos de batalha. Os dramas que ali se desenrolaram foram pungentes. Maiores detalhes e informações sobre a II Guerra Mundial foram lembrados durante a palestra que essa militar pronunciou em reunião do Conselho de Cultura Municipal, atendendo ao convite do médico Antônio Arnaldo Camelo, presidente da Fundação Municipal de Ação Cultural. Relembrou problemas de uma comunidade de 25 mil soldados longe do Brasil, sob o fogo cerrado das tropas alemãs, em ambiente desconhecido e hostil. Nem a neve, em temperatura de 30º abaixo de zero, impediu a Força Expedicionária Brasileira de vencer tropas do bem equipado exér-cito alemão, em pleno inverno italiano. A neve, poderosa adversária, venceu Napoleão, na Rússia, e dois séculos depois, na mesma região, derrotou o exército de Hitler. Imagino s dificuldades da major Elza Cansanção Medeiros – que dirigia um dos hospitais brasileiros de atendimento urgente – num mundo dominado por homens, num exército que, até então, não abrigava contingentes femininos. Propósitos e decisões inabaláveis fizeram-na vencedora. Uma observação a mais: você pensa que os nordestinos largaram a peixeira no corpo a corpo (mortal) com os alemães? – Caso pense assim, está redondamente enganado. (*) É MÉDICO

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