Doloridas rep�blicas
EDUARDO BOMFIM * Esta epígrafe é do grande intelectual cubano José Martí, nascido em 1853 e falecido em 1895. Nossas Doloridas Repúblicas, refere-se aos países da América Latina. Seus dramas e infortúnios, mas também o enorme potencial para se transfo
Por | Edição do dia 15/11/2002 - Matéria atualizada em 15/11/2002 às 00h00
EDUARDO BOMFIM * Esta epígrafe é do grande intelectual cubano José Martí, nascido em 1853 e falecido em 1895. Nossas Doloridas Repúblicas, refere-se aos países da América Latina. Seus dramas e infortúnios, mas também o enorme potencial para se transformarem e serem uma cultura nova para um novo mundo que reclama a afirmação da sua identidade e independência. A atualidade deste poeta, pensador e militante libertário reside no fato de que 149 anos após a sua morte, os povos latino-americanos ainda persistem na senda do seu caminho próprio, seja ele econômico ou mesmo político. A nossa história tem sido mesclada por lampejos de esperanças e nuvens permanentes, carregadas de sofrimento, dependência e baixa estima. A nossa sina caracteriza-se pela luta constante em busca da auto afirmação como povos e nações que paradoxalmente possuem uma imensa riqueza material além de humana, que é proveniente de um amálgama de raças, provocando uma fusão antropológica extraordinária, mas sobrevivendo na penúria mais que desgraçada. Tudo nos tem sido muito caro. A nossa emancipação nacional nunca foi efetivamente completa porque a ela sempre esteve ausente a primordial autonomia econômica. Grande parte das nossas elites são de uma subserviência espantosa, assombrosa, intolerável. Mesmo assim e a despeito delas, estes povos construíram cidades, indústrias, grandes e modernas plantações. O seu patrimônio cultural é tão intenso que, apesar de uma contínua e permanente lavagem cerebral, apoiadas e consumidas pelas suas minorias privilegiadas, continua criando, inovando e surpreendendo o resto do mundo. Se ontem a Europa ditava as regras da indumentária à poesia, hoje copiamos e assistimos a uma parafernália de produção tecno-artística alienada e alienante, procedente dos EUA. Tudo isso com uma postura acrítica, consumindo prazerosamente e conformando uma certa ignorância ilustrada. Há mais de um século, em 1891, José Martí já afirmava, a universidade européia deve dar lugar à universidade americana; a história da América, dos incas ao presente, deve ser ensinada minuciosamente, mesmo que não se ensine a dos arcontes da Grécia. A nossa Grécia é preferível à Grécia que não é nossa. A nós é mais necessária. Martí nunca foi um xenófobo, inimigo da cultura e conhecimentos universais. Ele protestava era contra a ausência do conhecimento de nós mesmos. Toda a sua luta permanece clamorosamente atual e em todos os planos das nossas doloridas repúblicas, incluindo este nosso imenso e continental Brasil. Não devemos observar as coisas e a história das nações como algo acabado, mas em processo. O que no dizer do espanhol Ortega y Gasset significa que estas devem decidir-se a criar sua história e sofrer o doloroso parto de seu próprio futuro. (*) É ADVOGADO