Combate � seca
HUMBERTO MARTINS * Nos primórdios da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), fim da década de 60, autoridades federais e estaduais, preocupadas com a gravidade do problema da seca no Nor-deste, convidaram um grupo de técnicos israelen
Por | Edição do dia 26/11/2002 - Matéria atualizada em 26/11/2002 às 00h00
HUMBERTO MARTINS * Nos primórdios da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), fim da década de 60, autoridades federais e estaduais, preocupadas com a gravidade do problema da seca no Nor-deste, convidaram um grupo de técnicos israelenses para visitar a região. Eles vieram, adentraram os sertões, conversaram com os flagelados e apresentaram suas conclusões ao plenário do órgão que coordenava então as medidas em defesa do Nordeste. Essas conclusões acentuavam que a irregularidade de chuvas no Nordeste era plenamente suportável, desde que fossem adotadas certas providências, como construção de açudes, de depósitos para armazenar água em domicílios, cultivadas espécies resistentes à falta dágua e perfurados poços em áreas onde houvesse constatação de lençóis freáticos próximos à superfície. É mais ou menos assim que procedem administradores públicos e privados no Estado de Israel, há priscas eras, para evitar que a irregularidade de chuvas e terrenos arenosos cujas situações geológicas são comparáveis ao deserto, inviabilizem o exercício da agricultura. Naturalmente que isso só é possível com grandes investimentos, havendo uma disparidade enorme entre os meios disponíveis para o Estado de Israel apoiado financeiramente por uma poderosa comunidade internacional e o Nordeste. Mas se houvesse ao menos continuidade, ano após ano, teriam sido alcançados progressos significativos no combate aos efeitos da estiagem. Repetindo uma rotina adversa de muitas décadas, que vara os séculos, o sertão alagoano está sendo atingido, novamente, pelos efeitos da estiagem. Da meia centena de municípios que integram o polígono das secas e a bacia leiteira, 20 já decretaram estado de emergência. A tendência é que a situação continue se agravando. Como as estruturas existentes para armazenamento dágua são insuficientes e precárias, quatro meses após terem caído os últimos pingos de chuva, açudes e barreiros já estão secos. O pasto de que dependem os animais para sobreviver está ressequido e impróprio para o consumo. Para se ter uma idéia da imprevidência que caracteriza a relação sertanejo-natureza, imprevidência determinada pela falta de recursos mencionou-se que o regime de chuvas, antes do atual período de estiagem, foi acima de regular. Com o que seria possível armazenar água em açudes, barreiros e depósitos residenciais, se houvesse um mínimo de estrutura. Esse armazenamento dágua, corre nos sertões de Alagoas e do Nordeste, em escala bem abaixo do que seria necessário, com as conseqüências de todo conhecidas. Para minimizar os efeitos da estiagem, governos federal e estadual desenvolvem programas comuns, com o fornecimento de água e alimentos para as populações atingidas. Os problemas provocados pela estiagem fazem com que incontáveis pessoas abandonem suas casas e procurem sobreviver nas cidades. Como nos centros urbanos a situação já é de desemprego e subemprego, as questões sociais se agravam ainda mais. É da competência da União, visando reduzir as dificuldades regionais, priorizar o aproveitamento econômico e social dos rios e das massas de águas represadas ou represáveis nas regiões de baixa renda, sujeitas a secas periódicas, além de incentivar a recuperação de terras áridas e cooperar com os pequenos e médios proprietários rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes de água e de pequena irrigação, consoante disciplinamento da nossa Carta Política. Combater a seca, significa erradicar a pobreza, criando novos empregos e gerando desenvolvimento. (*) É DESEMBARGADOR DO TJ/AL