Nos outros...
DOM FERNANDO IÓRIO * De qualquer maneira é virtuoso ver nos outros o que é bom. Por outro lado, quem espalha o negativo, a má-ação está oferecendo a impressão de que já a cometeu. Dir-se-ia que o julgamento é a imagem daquilo que não aceitamos em nós m
Por | Edição do dia 26/11/2002 - Matéria atualizada em 26/11/2002 às 00h00
DOM FERNANDO IÓRIO * De qualquer maneira é virtuoso ver nos outros o que é bom. Por outro lado, quem espalha o negativo, a má-ação está oferecendo a impressão de que já a cometeu. Dir-se-ia que o julgamento é a imagem daquilo que não aceitamos em nós mesmos. Prefiramos, ao julgar, compreender o de que não gostamos em outra pessoa, nem em nós. Muito do que criticamos nos outros são, de fato, aspectos negativos não resolvidos dentro de nós mesmos. É oportuno manter o sentido de humorismo e a capacidade de aceitar, sem começar a julgar negativamente. Nunca é demais lembrar o sábio dito de afamada tribo americana: Faça com que eu não julgue outra pessoa, an tes de ter caminhado um quilômetro com os seus mocassins. Nossos julgamentos devem diluir-se em compaixão. Preferir mudar a si mesmo a converter os outros é sinal de alta sabedoria. Julguemo-nos a nós mesmos, eliminando nossos preconceitos, nossos pontos fracos, de modo a ver no olho do vizinho o pequenino cisco que em nosso olho é imensa trave. Quando percebermos que a má sorte do outro é também a nossa, começaremos a tudo considerar, sob um novo prisma. Cumpre caminharmos no ritmo dos mocassins rotos do outro, sentindo a dor das feridas de seus pés, para, ao findar-se o itinerário, estarmos em condição de confessar: Eu compreendo. Encontrava-se o esposo com muitas dificuldades para comunicar-se com a esposa. Desconfiou de que estava ela surda. Certa noite, estavam os dois sentados, em ocasião propícia para decisivo teste. Sentado na cadeira, o mais longe possível da esposa, começou a perguntar: - Você consegue ouvir-me? Nenhuma resposta! Resolveu aproximar-se, com a mesma interrogação: - Você consegue ouvir-me? Nada de resposta. Mais perto ainda da esposa, perguntou-lhe: - Você consegue ouvir-me? Nada obteve de resposta. Colocou-se bem atrás da esposa: - Você consegue ouvir-me? Para surpresa, ouviu aquela irritada resposta: - É a quarta vez que eu respondo e você não me ouve. É lógico que eu estou ouvindo; você talvez esteja com problema na audição. Em geral, julgamos ser a falha do outro, encobrindo nossos próprios defeitos e carências: Que ninguém julgue alguém, antes de ter caminhado um quilômetro com o seus mocassins rotos. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS