O proclamador e a atual Rep�blica
Há 124 anos, o alagoano Deodoro da Fonseca, aos 62 anos, envelhecido pela dureza da vida militar onde lhe pesavam especialmente as feridas no corpo e na alma da terrível Guerra do Paraguai, viu-se forçado a se levantar do leito onde convalescia do rec
Por | Edição do dia 15/11/2013 - Matéria atualizada em 15/11/2013 às 00h00
Há 124 anos, o alagoano Deodoro da Fonseca, aos 62 anos, envelhecido pela dureza da vida militar onde lhe pesavam especialmente as feridas no corpo e na alma da terrível Guerra do Paraguai, viu-se forçado a se levantar do leito onde convalescia do recrudescimento dos ferimentos sofridos em batalhas anos atrás, envergar novamente a farda de marechal do Exército e sair à rua para, nada mais nada menos que, mudar o regime do Brasil. Deodoro era um monarquista, mais pela inércia que por convicção, e tinha apreço pessoal por Pedro II, o imperador envelhecido precocemente e afastado, na prática, dos negócios do Império que caía aos pedaços naquele novembro de 1889. O marechal sabia que sua presença no comando da inevitável ação de força destinada a liquidar o sistema monárquico garantiria que o movimento se fizesse vitorioso com um mínimo de trauma, minimizando os conflitos entre as lideranças que implantariam a República. E assim procedeu. Proclamada a República, Deodoro foi conduzido à presidência provisória e depois eleito segundo a nova Constituição para o posto de presidente da República. Mas não se amoldou ao jogo de cintura indispensável para o exercício da política. Agastou-se. Tentou um golpe. Frustrado, renunciou. Com a saúde abalada, pediu para ser enterrado como civil. Foi desobedecido, pois seus camaradas de farda fizeram questão de, quando de sua morte, dar-lhe todas as honras militares. Apesar de seu notório gênio forte, as crônicas da história não têm lhe sido desfavoráveis, apesar de aqui e ali tentarem rebaixar seu ato revolucionário ao descreverem motivos mais passionais que políticos para seu gesto de assumir o comando da proclamação da República. Irrelevância tola, incapaz de turvar o brilho de sua atuação no 15 de novembro de 1889. Se do além-vida o rigoroso Deodoro olhasse para a República dos dias de hoje, sem dúvida amarraria ainda mais a cara. Irritar-se-ia, certamente, com os parcos avanços das virtudes republicanas e com a impressionante sobrevida dos vícios e corrupções que marcaram o carcomido Império. E, indubitavelmente, se aborreceria mais ainda se pudesse ver o que acontece em torno dos monumentos dedicados à sua memória.