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Nº 5899
Opinião

Combates e batalhas

EDUARDO BOMFIM q Casualmente, caiu-me nas mãos uma edição de 1978 do livro Combates e batalhas, de Otávio Brandão. O seu proprietário é o “velho” companheiro de muitas lutas progressistas, José Lessa. Trata-se de uma obra imperdível, não apenas pelo s

Por | Edição do dia 29/11/2002 - Matéria atualizada em 29/11/2002 às 00h00

EDUARDO BOMFIM q Casualmente, caiu-me nas mãos uma edição de 1978 do livro Combates e batalhas, de Otávio Brandão. O seu proprietário é o “velho” companheiro de muitas lutas progressistas, José Lessa. Trata-se de uma obra imperdível, não apenas pelo seu inestimável valor, mas como testemunho da trajetória de um verdadeiro lutador das causas sociais. Muitas das suas afirmações foram vencidas pelo desenvolvimento das contradições e sustos que a História nos prega, aos indivíduos, povos e ao próprio marxismo. Quanto a este último, é possível afirmar que o domínio da teoria científica transformadora da sociedade ainda continua a merecer entre nós brasileiros e de resto, por todo o mundo, uma melhor compreensão. Ao dissertar sobre a sua longeva militância, este que foi um dos fundadores do Partido Comunista, afirma em determinado momento que desafiou a adversidade e afrontou os doidos turbilhões da vida. Combateu a reação no Brasil e lá na União Soviética as hordas nazistas invasoras. Durante a sua longa existência sofreu dezessete prisões. Afirma que ele e seus companheiros de época abriram picadas na mata virgem, selvagem. Declara que grandes vitórias serão alcançadas na luta pela libertação do Brasil e da humanidade. É o veredicto de uma alma nobre e generosa. Não importam os desgostos, injustiças, que tenham sofrido ou os erros e acertos que tenham cometido. Agigantou-se-lhe em sua vida, sempre a causa pelo país e os oprimidos. Quando se fala hoje do grande momento em que vivemos após a vitória de Lula à presidência do Brasil, provocando urticária em alguns, parece-me lúcido considerar que ela pertence a todo um processo histórico. Em alguns ásperos momentos, os combatentes mais se assemelhavam à reduzida “l’Armata Brancaleone” ou o “Incrível Exército de Brancaleone”, imortalizado no cinema através do extraordinário filme italiano, estrelado por Vittorio Gassman. Na minha opinião, o momento que o Brasil está vivendo e que será definitivamente inaugurado em primeiro de janeiro, é exatamente isso: um longo e sinuoso trajeto com idas e vindas. Por exemplo, seja lá o juízo que se faça, ou a visão ideológica que se tenha sobre o período do governo de João Goulart, jamais encontrei uma frase tão definitiva, irrefutável mesmo, sobre a sua queda, senão aquela expressa por Darcy Ribeiro: “O governo Jango não caiu pelos seus defeitos mas exatamente pelas suas virtudes”. Falo essas coisas todas em um mundo diferente daquele vivido pelo alagoano Otavio Brandão, mas não menos perigoso e com uma potência mundial empanturrada de soberba e agressividade. Percorro este “via Poço”, imortalizado pelo saudoso Sandoval Caju, sem nenhuma maior outra pretensão que não seja a de asseverar-me da atualidade e o sentido profundo dos combates e batalhas de Otavio Brandão. E além disso, dar-me conta de que ao futuro governo Lula cabe conquistar amplo respaldo nacional pelas suas prováveis virtudes e bastante carinho, cuidado mesmo, com os seus inevitáveis defeitos. (q) É ADVOGADO

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