O exibicionismo e as redes sociais

Invadir a privacidade alheia tem sido um objeto do desejo registrado desde quando o ser humano aprendeu a descrever algo. Durante muito tempo, esse vício tem sido alimentado também pelo pouco cuidado para com sua própria privacidade, coisa muito antiga e igualmente possível de ser comprovada pela leitura de antigos escritos. Para usar termos da moda nas redes sociais, podemos dizer que a coisa virou ?meme? a partir dos sítios de compartilhamento. Não são poucas as imagens que têm ?causado? na internet, expondo, implacavelmente, a intimidade de outrem. Suicídios têm ocorrido em decorrência disso. Mas, como dito no início, há quem provoque. Este foi o caso em que se meteu o homem mais poderoso do planeta ao cometer o pecado, nem tão discreto assim, de deixar-se flagrar num ato de explícito flerte, exibicionismo e comportamento absolutamente inadequado durante um funeral. Em pleno velório oficial de Nelson Mandela, esquecendo-se da proximidade de milhares de câmeras e olvidando do olhar vigilante da primeira-dama Michele Obama, Barack desmanchou-se, desminliguiu-se todo, diante do charme da bela primeira-ministra da Dinamarca, Helle Thorning. Entusiasmado com o convite da nórdica para ambos protagonizarem uma ?selfie?, o presidente americano, escancarando o mais alvo dos sorrisos, praticamente mergulhou no colo da louraça. O fotógrafo Roberto Schmidt fez o que todo repórter deve fazer, despejou cliques sobre a inusitada exposição múltipla de intimidades e inconveniências públicas. Capturou a irritação da primeira-dama americana, inclusive o passo a passo da constrangedora troca de lugares com Barack cedendo sua vaga vizinha à loura para uma Michele Obama de cara amarradíssima, enquanto a bela Helle recolhia-se numa expressão frustrada e ?descabriada? ? usando um termo caro aos nordestinos. Naturalmente, a assessoria de imprensa da Casa Branca tentou passar uma borracha no episódio, fornecendo longas e inócuas explicações e justificativas. Em vão, evidentemente. As fotos falam por si, dispensando legendas. Em resumo, fica a lição: mirem-se no exemplo do cara da Casa Branca; não se exponham, pois, em tempo de redes sociais, qualquer exibição está aberta ao público num poderoso teatro a céu aberto.