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Nº 5905
Opinião

Balzac e Maom�

MARCOS DAVI MELO * O concurso das beldades internacionais, que deveria se realizar mais uma vez em um ambiente de algum glamour e farto de futilidade, desta vez não aconteceu. A Nigéria, palco escolhido para as meninas mostrarem as suas plásticas e as s

Por | Edição do dia 30/11/2002 - Matéria atualizada em 30/11/2002 às 00h00

MARCOS DAVI MELO * O concurso das beldades internacionais, que deveria se realizar mais uma vez em um ambiente de algum glamour e farto de futilidade, desta vez não aconteceu. A Nigéria, palco escolhido para as meninas mostrarem as suas plásticas e as suas sábias convicções sobre o mundo em que vivemos, sentiu-se ofendida pela tentação da carne ao profeta Maomé. E o mundo perdeu, não só a oportunidade de apreciar detalhadamente as suas belas curvas, que habilitam aquelas meninas oriundas dos quatro cantos do mundo ao concurso, como principalmente a escutar as sólidas observações e as certezas absolutas que as mesmas tem a fazer sobre tudo o que existe sobre a face da Terra. Sim, porque a curiosidade sobre o que as modelos tem a dizer sobre tudo e todos, não é só uma fraqueza do caráter nacional. Não é só Gisele Bündchen que galvaniza as atenções da mídia e deixa a população embasbacada com as suas eruditas observações. Qualquer menina bem talhada ou rapaz sarado que desfile daquele jeito enfastiado que os caracteriza, tem mais espaço na mídia que Raimundo Faoro, Celso Furtado, ou mesmo Maomé se à Terra voltasse. Daí, sem em nenhum momento desmerecer o quanto é gostoso ver uma menina bem malhada desfilar em uma passarela, ou melhor ainda, vê-la na praia da Ponta Verde, languidamente espreguiçando-se ao sol de verão, eu ainda me conformo em apenas vê-las, já que tocá-las não devo e não posso e a escutá-las, eu ainda prefiro as mais maduras, as chamadas balzaquianas. Aos que afirmarem que a mulher madura é uma decaída, dir-lhes-ei que hoje muito se cuidam e se o tempo lhes leva algo da formosura, pode lhes dar em troca adornos ao espírito. Balzac foi além de justa valorização da mulher madura. Venerado pelas melhores inteligências, como o nosso Monteiro Lobato. Que aconselhando o que dever-se-ia ler, dizia que ninguém tinha ido mais a fundo no pensamento moderno e melhor desnudado a alma humana. Afirmativa sóbrio, que O Lírio do Vale deveria ser lido por todos os seus amigos e esta seria a última coisa útil a se fazer no mundo. Depois poder-se-ia morrer. Termina categórico: ‘‘Lê o Lírio e suicida-te Rangel”. Estas belas meninas têm muito a mostrar e no fundo não tem nada a dizer. Abobrinhas, bobagens e futilidades. Justificam o nosso olhar, e se ameaçariam Maomé, que era santo com pensamentos pecaminosos. Nós, vis mortais, também poderíamos ser tentados. Mas seriam apenas fantasias e nada mais. Prefiro, sem titubeios, o papo e a presença concreta da companheira de sempre, com a qual compartilho as dúvidas e incertezas do amadurecimento insuperável das nossas vidas e com a qual divido os altos e baixos inevitáveis das nossas existências. (*) É MÉDICO

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