A droga que mata
MILTON HÊNIO * Ficamos estarrecidos quando assistimos pela televisão a cenas inacreditáveis de filha matando os pais, neto matando a avó, irmão matando irmão, tudo em conseqüência de condutas delinqüentes causadas pelo uso constante das drogas. As droga
Por | Edição do dia 01/12/2002 - Matéria atualizada em 01/12/2002 às 00h00
MILTON HÊNIO * Ficamos estarrecidos quando assistimos pela televisão a cenas inacreditáveis de filha matando os pais, neto matando a avó, irmão matando irmão, tudo em conseqüência de condutas delinqüentes causadas pelo uso constante das drogas. As drogas constituem uma enfermidade de nossa civilização e uma má resposta às dificuldades da vida. A amplitude do tráfico de tóxico, principalmente entre os adolescentes brasileiros, nos faz concluir pela gravidade desse flagelo. Leio na Folha de São Paulo que os adolescentes de Ribeirão Preto estão trocando as brincadeiras típicas da idade pelo vício e o tráfico de drogas. Arregimentados pelos traficantes, que vêem neles uma maneira segura de burlar a lei, muitas vezes usam boates, bares, colégios para desordens de toda sorte, uma guerra na qual a vida não vale nada. As drogas alucinógenas provocam distorções na percepção das cores e das formas, porque o cérebro funciona desordenadamente. Dentre elas, as mais conhecidas são a maconha e o LSD (acido lisérgico), as mais usadas pelos viciados. É assustador o número de jovens que loucamente perdem o sentido da vida, enveredando pelo caminho sem volta dos tóxicos. Segundo a Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) de São Paulo, no ano de 2001 houve um aumento de 1.108% de menores de todas as classes envolvidos com drogas. É lastimável isso. É uma verdadeira guerra, na qual milhões de vidas se não são destruídas pela morte, ficam imprestáveis pela lesão da célula nervosa agredida pelo tóxico. O mais preocupante é que aqui, entre nós brasileiros, o perfil do infrator é formado não só por adolescentes de camadas pobres, mas em grande escala pelos jovens também de camadas ricas. O que os leva a ingerir drogas? As pesquisas mostram que 70% dos adolescentes presos em São Paulo têm entre 16 e 19 anos e 50% são filhos de pais separados. De acordo com o promotor da Infância e Juventude de são Paulo, onde foi feita esta pesquisa, a mudança de comportamento desses jovens tem uma relação direta com o sonho de consumo vendido pela mídia. Entre os objetos de desejo desses adolescentes estão tênis, bermudas, camisas de grifes e bonés importados. Ao serem presos, muitos deles estão com um desses objetos. Cabe aos pais vigiar os filhos, mostrando-lhes o sentido da vida, as más companhias e o perigo que as drogas representam para a sua vida. As drogas (todas elas) agem na parte mais delicada do cérebro humano. O cérebro tem bilhões de células, os neurônios, que se comunicando entre si geram sensações, o pensamento ou a ação. Essa comunicação só acontece graças a substâncias químicas conhecidas como neurotransmissores. É exatamente aí que as drogas chegam para atrapalhar. Interagindo com os neurotransmissores tornam imprecisas as mensagens entre os neurônios. É o fim dos impulsos nervosos. A maconha, para citar apenas uma dessas drogas, afeta as condições psíquicas e físicas do indivíduo, produzindo reações violentas logo depois de usada. Meu caro jovem. Não é possível que você cheio de vida, de entusiasmo, de projetos, deixe cair tudo por terra por uma droga que vai arrastá-lo pelos caminhos do mal. Pense duas vezes quando algum amigo queira insinuá-lo. Eu creio na juventude e acredito na influência que ela exerce no destino dos brasileiros. Vocês estão conscientes, caros jovens, das dificuldades que terão de enfrentar. Sei que saberão ultrapassá-las. Eu creio em vocês. Creio na mocidade que ainda não foi contaminada pelos vícios que a vida ensina; mas na mocidade que estuda e que trabalha e que enfrenta dificuldades sem temor, buscando a vitória. Creio na mocidade que tem fé e move montanhas e que sonha com um mundo melhor, uma mocidade que luta e vê na cultura um objetivo. Eu creio na mocidade que é motor em movimento, sorriso nos lábios, sangue nas veias, canto na voz. Vamos todos, de mãos dadas. Vocês puxando o cordão, jovens da minha terra, lutar por um Brasil feliz, com a alegria de viver, sem precisar de drogas. (*) É MÉDICO