Opinião
VALMIR CALHEIROS, MEU PAI

Pai, um mês sem você! Não sei se vou me refazer dessa dor. Aliás, nem sei se quero! Se a saudade que eu sinto do senhor é eterna, o amor que nos une é divino. Papai do Céu não me disse que o senhor podia partir. Eu achava que o senhor era imortal. Achava que o senhor era um livro. O mais bem escrito ao qual eu tive acesso e que podia consultar a hora que eu quisesse, era só procurar na estante. Painho, as lembranças são como o ar que eu respiro, preciso delas para viver. O senhor me ensinou a amar o jornalismo quando nasci. Abracei o ofício para ganhar ainda mais sua atenção. Não que o senhor fosse ausente. Pelo contrário! Era o pai mais presente que se tem notícia. É claro, o mais atrasado também. Afinal, antes de qualquer compromisso familiar, o senhor tinha sempre uma matéria especial para fazer. Só vi o senhor verdadeiramente triste quando perdeu o Juninho, o Valmir Calheiros de Siqueira Júnior, que lhe recebeu aí no céu com todas as honras. Naquele 13 de dezembro de 1994, prometi que não iria decepcioná-lo. O senhor não quis processar o motorista responsável pelo atropelamento depois que descobriu que ele tinha filhos. ?Ele acabou com a minha vida. Não posso acabar com a vida dos filhos dele. Eu estaria sendo mais cruel?, disse o senhor. É, pai, o senhor não dava lições de vida. O senhor era a própria lição de vida. E seus netos? Gabriela, nove anos, e Valmir Gabriel, dois anos e meio. Nunca vi tamanha devoção a duas crianças. Sua religião eram eles. Sua Dete está se agarrando a eles em uma tentativa desesperada de reaprender a viver. A relação de vocês era visceral. De muito amor. Nenhuma noiva esperaria mais de duas horas no altar para ver o noivo chegar todo sujo de lama porque estava na despedida de solteiro e perdeu a hora do casamento. Passados quase 42 anos de casamento, o senhor ainda sorria ao dizer que a mainha estava tão nervosa que até o buquê de flores artificiais murchou. Dorme em paz, meu anjo Valmir! Fica com Deus, meu pai querido! O homem mais honrado, digno e de bom coração que já se teve notícias. Seu melhor texto não foi apenas escrito por você, foi praticado por você. Cada pessoa que te conheceu tem as melhores recordações possíveis sobre o senhor. Agora, Gabriela diz que o senhor é um anjo e Valmir Gabriel diz que o senhor é uma estrelinha.