Opinião
ABASTADOS ABESTADOS

Tudo bem que a chamada grande mídia errou feio em suas previsões de caos, fosse pela ação dos ?blequebostas? (eita! não resisti, foi mal), fosse pela vaticinada incompetência dos brasileiros de fazer uma Copa para o mundo ver, com seus estádios e aeroportos inacabados, voos atrasados, trens, metrôs e ônibus ineficientes... Mas não errou quando decretou que morreríamos de vergonha. Embora não pelos prognósticos desastrosos (com trocadilho) subliminarmente desejados, martelados no tutano dos brasileiros dia após dia por pelo menos três anos ? tanto dos que as recebiam fazendo-lhe coro, como dos que se insurgiam por ver o interesse político-eleitoreiro que a movia ?, morremos de vergonha, sim. Duas vezes. Numa, o xingamento, que não me permito reproduzir aqui, à mulher-mãe-cidadã-presidenta-do-Brasil, já por mim aludido outrora. Noutra: a vaia ao hino do Chile, sob os olhares e ouvidos atônitos e incrédulos dos seus filhos que nos visitam, minoria no estádio. Esses atos vieram para mostrar ao mundo que não foram um instante, mas o retrato de parcela (minoria!) da sociedade brasileira, justamente a mais abastada ou remediada, com maior graduação acadêmica e profissional, pois. Embora a cores, um instantâneo já carcomido pelas traças e ácaros da covardia (agigantam-se porque em maioria), do desrespeito a um país e ao seu povo que lhe visita (xenofobia, racismo?), da irracionalidade tão animalesca quanto abobalhada (teriam vaiado os hinos da Europa rica ou dos EUA? ?Duvideodó?). A propósito, segundo o Data Folha, no estádio havia uma ?elite branca? cuja maioria (82%) apresentava uma renda familiar mensal que variava de cinco a mais de cinquenta salários mínimos. Mais: apenas 3% desses torcedores ganhavam até 2 salários mínimos (percentual equivalente, no Brasil real, a 42% da população, enquanto aqueles 82%, além-muros da Arena Mineirão, representam apenas 9,2% da sociedade brasileira). Sintomático? A ?grande? mídia, por sua vez, cínica como ela só, age como se nada lhe dissesse respeito. Algumas têm o desplante de vir a público reconhecer seus ?erros? de prognóstico, como se de meros enganos se tratassem, e não de verdadeiro crime contra a economia do país. O que me serve de consolo é a sensação de que os que vaiaram (e xingaram) ? os que tem cura, claro ? sentiram-se envergonhados de suas vilezas. É só uma sensação. Mas já é alguma coisa.
