Estradas na UTI
EDNALDO AFONSO M. DE MELO * A rede Globo de televisão realizou durante nove dias e levou ao ar no Jornal Nacional uma série de reportagens sobre as condições de algumas das rodovias brasileiras, mais especificamente, sobre o estado geral em que se encont
Por | Edição do dia 02/03/2002 - Matéria atualizada em 02/03/2002 às 00h00
EDNALDO AFONSO M. DE MELO * A rede Globo de televisão realizou durante nove dias e levou ao ar no Jornal Nacional uma série de reportagens sobre as condições de algumas das rodovias brasileiras, mais especificamente, sobre o estado geral em que se encontram as BRs 101 e 116. Foi feito um retrato dos problemas encontrados com a seguinte conclusão: As estradas brasileiras ainda precisam melhorar muito. Ao todo foram percorridos 9.40 quilômetros por duas equipes de repórteres, uma de norte a sul do País, de Porto Alegre a Fortaleza, e outra, em sentido contrário, documentando o estado de precariedade em que se encontram essas vias, que têm dupla função: social e econômica. Por elas, escoa a maior parte do Produto Interno Bruto -PIB- brasileiro. No último programa da série, levado ao ar no dia 29 de janeiro de 2002, foi feita uma entrevista com o ministro dos Transportes, que teceu algumas considerações sobre a falta de recursos orçamentários para resolver o problema das rodovias brasileiras. Entretanto, quem estuda o problema das estradas no País sabe que são cinco os motivos que nos levam a esse estado atual: primeiro, as falhas de projeto, que ocorrem devido às diversas variáveis existentes. Segundo, os problemas de execução associadas à falta de um sistema de qualidade e a um controle tecnológico inadequado ou incompleto. Terceiro, a falta de recursos para serem utilizados na hora precisa sem permitir que os problemas se avolumem e aumentem o montante necessário a ser aplicado. Quarto, a falta de ética observada em boa parte dos administradores públicos; quinto, e principalmente, a falta de decisão político-administrativa, no sentido de implantar um sistema de gerenciamento que permita aplicar no momento necessário e segundo as prioridades, as correções ou manutenções que cada via necessita, sem postergar pequenos investimentos, fundamentais para conservação da estrada e garantia de uma maior durabilidade, como por exemplo, uma aplicação de capa selante, de uma lama asfáltica etc, serviços considerados de manutenção preventiva. Quando uma estrada é entregue à população usuária passa, a partir do primeiro e, principalmente, do quarto ou quinto ano, a necessitar de pequenos investimentos, que garantam as condições de funcionalidade (conforto, segurança e economia de operação para os usuários) originais. Trata-se de uma obra exposta a condições adversas (ação de intempéries, sol, chuva, etc) e que precisa ser monitorada durante toda sua vida. Além disso, uma via pavimentada com asfalto, dura em média de 10 a 20 anos, podendo chegar a 25 anos, no máximo. Ao final desse tempo precisará ser restaurada para que retorne a serventia (conforto e segurança) ideal. Se os recursos necessários para tal não forem liberados no momento correto da vida da estrada, por exemplo, ao invés de liberar num determinado ano somente ocorrer no ano seguinte, ela pode se acabar por completo e o volume de recursos para reconstrução será bem mais alto, podendo chegar a ser de três ou quatro vezes maior. Enquanto o governo brasileiro, o Congresso Nacional, os meios de comunicação e a sociedade em geral não entenderem que precisam dispor de recursos específicos para serem aplicados nas estradas, não haverá solução à vista. Fundamentalmente, o que precisa é criar um fundo nacional de transportes, que permita o uso de recursos no momento que se fizer necessário, sem postergar. Se um dia isso ocorrer, será dado um passo importante no sentido de aplicar os recursos financeiros de forma correta, sem interrupção, baseado em orientação técnico-econômica, numa escala de prioridade. Enquanto não mudar o mapa que está na cabeça das pessoas, ou seja, a forma como as pessoas vêem a solução do problema das estradas do País, vamos continuar enfrentando buracos e longas viagens, desperdiçando dinheiro, demonstrando incompetência político-administrativa para resolver essa questão. Do modo como hoje é feito o gerenciamento das rodovias no País é enorme o desperdício econômico e isso aumenta sobremaneira o Custo Brasil, fazendo com que os produtos cheguem aos pontos de exportação mais caros, com menores condições de competir no mercado internacional. (*) É ENGENHEIRO