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Nº 5759
Opinião

O FILME SOBRE NISE DA SILVEIRA

Fábrica de sonhos, relatos comovidos de um grande filme fazem, às vezes, visualizarmos genocidas de carteirinha (Saddan, Stalin, Hitler, Mao e tantos outros) como pessoas boníssimas, incapazes de fazerem mal a um pinto. Não é o caso, evidentemente, do fi

Por | Edição do dia 23/08/2014 - Matéria atualizada em 23/08/2014 às 00h00

Fábrica de sonhos, relatos comovidos de um grande filme fazem, às vezes, visualizarmos genocidas de carteirinha (Saddan, Stalin, Hitler, Mao e tantos outros) como pessoas boníssimas, incapazes de fazerem mal a um pinto. Não é o caso, evidentemente, do filme “Nise da Silveira - A Senhora das Imagens”, protagonizado pela excelente Glória Pires, diva da dramaturgia nacional. Com efeito, nossa conterrânea, cujo pai, o professor de matemática, Faustino da Silveira, nomeia uma das ruas de Bebedouro, está muito longe desses perfis sanguinários. Pelos depoimentos, estou convencido da sua candura. Não obstante decidida, era tímida e edulcorada. Franzina e longeva, amava gatos. Vi algumas fotos em que ela pousava com felinos de sua estima, revelando aparente despreocupação com o que dessa intimidade poderia advir. Pode-se dizer que nesse aspecto teve sorte. Os gatos transmitem graves doenças aos seres humanos. Eleita diva dos que detestam hospitais psiquiátricos e seus respectivos proprietários, nos anos 1940 e seguintes, incentivaria uma prática consagrada na psiquiatria: a terapia ocupacional ou praxiterapia. Descobriu alguns talentos entre aqueles milhares de internados no complexo psiquiátrico do Engenho de Dentro. Sua abordagem nunca curou ninguém. Como cientista (lamento dizer isso) foi catastrófica e irresponsável. Ao desprezar o eletrochoque mostrou todo o seu nanismo científico. Se ela tivesse sido ouvida, milhares de pacientes deixariam de se beneficiar com esse tratamento. Também desaprovou a lobotomia. O eletrochoque, para desgosto da contracultura psiquiátrica, continua sendo usado. A lobotomia foi abandonada quando os neurolépticos foram descobertos. Não dependeu, portanto, de nossa ilustre conterrânea. Comunista, não discuto sobre a injustiça de sua prisão, na ditadura Vargas. A única crítica é o fato de horrorizar-se com uma crise convulsiva e ignorar os milhões de assassinatos perpetrados pelo regime que sonhava. Mas nesse quesito ela não está sozinha. O que restou do “auê” em torno do atelier de Nise da Silveira, se um simples comprimido de haldol é mais benéfico para um psicótico de que milhares de pincéis e latas de tinta? Num País de tão poucos heróis, daqui a pouco vão fazer um filme enaltecendo a guerrilheira ”Stela” e justificar os assaltos a bancos e a casas de família como provas de um coração generoso. Será mais uma “benfeitora da humanidade” protagonizada pela talentosa Glória Pires.

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