Opinião
Sua majestade, a crian�a

JOSÉ MEDEIROS * Natal é uma palavra que se relaciona a nascimento e, num sentido especial, significa o dia em que se comemora o nascimento de Jesus. É a festa da vida, a festa das famílias. Encanta, emociona, sensibiliza, com suas luzes, cores e alegria. Costuma-se dizer que não há ninguém que não tenha lembranças no Natal: recordações de familiares, de amores e de amizades, passadas ou recentes. Entretanto, em meio a todos esses júbilos natalinos, há fatos que entristecem e causam amargura. Um acontecimento recente: o cenário é um ambulatório de atendimento médico. A doutora examina, entrega a receita e tem uma palavra de consolo para cada paciente. Falta um último cliente do dia. É chamado, mas não responde: chora copiosamente. Por quê? Silêncio como resposta. A médica deixa o consultório e tenta dialogar com ele. A muito custo, entre soluços, o garoto explica que quer tomar soro, está fraco, há dois dias não come. Não há alimento nenhum em sua casa. E conclui: necessito ficar forte, pois amanhã é dia de feira e tenho que empurrar a carroça de verduras por toda a cidade. Com o lucro da carrocinha sustento minha mãe doente e dois irmãos menores. A doutora se comoveu. O garoto tem apenas 10 anos. A médica concluiu que não se tratava de uma doença orgânica e sim de uma doença social. As pedras no caminho do menino haviam começando muito cedo. Após uma página triste da vida, releio este texto natalino com emoção: Diante de uma criança muitos param, sorriem, dirigem-lhe uma palavrinha gentil. Outros, indiferentes, seguem apresados. Mas, a regra é que as crianças têm o poder singular de romper a estranheza e o mutismo dos que estão em volta; conseguem atar uma rede de relacionamentos simplesmente com a própria presença. As crianças fazem parte de sua família, mas, ao mesmo tempo, da família de todos nós. Elas são, por assim dizer, um bem comum. Há dois mil anos, em Belém, nascia uma criança que maravilhou sua época. Parecia ser uma criança comum, corada e de olhos vivos, cercada pelos pais e pelos animais. Uma estrela, de grande brilho e fulgor iluminava os arredores e encantava os pastores. Chegavam estranhos visitantes, com diferentes vestuários, montados em camelos de ricos arreios e ornatos. Explicavam aos pastores que a estrela indicava o local onde nascera um menino que tinha como missão mudar os rumos dos povos e das religiões. Dele falavam as profecias. Consolidava-se, assim, mais uma vez, o poder das crianças e a relevância de sua presença. Majestade do amor. Nada é mais importante do que o nascimento de um filho. É um evento maior. O acontecimento de Belém é símbolo da família cristã. A vida não tem apenas uma face, mas muitas faces, ora boas, ora cruéis. O Natal lembra a melhor das faces, a da fraternidade e da solidariedade. Palavras do escritor Klauss Hemmler: se não houvesse crianças, a humanidade não teria futuro. Então, é Natal! Felicidades! (*) É MÉDICO E EX-SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE