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terça-feira, 15/07/2025 | Ano | Nº 6010
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Opinião

A HERAN�A DEMOCR�TICA

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Na Atenas democrática da época de Sócrates e Platão, a cidadania não era dotada apenas de isegoria, isto é, do privilégio legal de tomar a palavra na assembleia; a cidadania tinha outro requisito de ordem moral, o de que cada cidadão, fosse um parrhésiastés: enfim, dissesse tudo com extrema franqueza. Sabia-se, evidentemente, que isso quando levado em termos de crítica, ou admoestação, causava desagrado ao interlocutor por lhe dizer uma verdade inconveniente, e risco de punição, todavia, cristalizou-se a consciência patriótica de que o melhor amigo da cidade é o que diz a verdade para melhor a aconselhar a abandonar os maus modos. Assim, o parrhésiastés ateniense, tornava-se, na prática, um modelo de gestão pública extremamente ético, pois, denunciando as faltas do Estado, o cidadão disciplinava o poder e o discurso públicos, pois o contrastava com as hipocrisias e com as retóricas demagógicas. O confronto de opiniões à disponibilidade para ouvir o que, por vezes, é doloroso, era e é parte da essência da democracia. Na democracia, sobrepaira uma questão maior: a liberdade, principalmente a liberdade de expressão. Antes de ser um direito humano inalienável à pura expressão do sujeito, a liberdade de expressão aparece como corolário de uma recomendação filosófica quanto aos meios de se procurar e esclarecer a verdade sobre as coisas e de eliminar o erro ou as opiniões pouco fundamentadas. A censura imposta por qualquer ortodoxia é sempre essencialmente antifilosófica, não tanto por ser uma medida repressiva, mas porque aniquila a procura da verdade e perpetua as ilusões ou as opiniões errôneas. A descoberta da verdade e o assentimento voluntário e convicto que o triunfo da verdade, sempre requer, depende de um exercício, de uma progressão, de um confronto com as múltiplas teses que se desenvolvem a respeito de várias questões que vão surgindo. Só a ocorrência de várias propostas públicas de verdade solicita o uso da razão, e sem a liberdade de expressão e de publicação, um dos bens do regime democrático, é a razão que definha, é a filosofia, que em última análise, é posta em causa. O segundo turno das eleições necessita reviver os tempos da Grécia antiga, dedicando-se o maior tempo possível aos problemas nacionais e o debate das propostas para superá-los, sem demagogias e enganações.

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