Opinião
DEIXA A BALEIA CORTAR �GUA

No que diz respeito aos adágios populares, costumo analisá-los e ver se têm algum sentido. Assim, passo a utilizá-los ou mesmo abominá-los, se com eles não concordo ou mesmo os considero mal construídos. A primeira vez que ouvi o provérbio ?Deixa a baleia cortar água? foi do meu irmão Júnior, sendo, porém, antigo esse ditado, pois o seu Antônio, o barbeiro, disse que seu pai já dizia isso. De início, não gostei do referido ditado, mas, há alguns meses, passei a utilizá-lo, com certa frequência, em minhas conversas, talvez porque alude ao personagem principal do livro Moby Dick, de Herman Melville, que pretendo ler em breve. Quando alguém diz, numa conversa, para ?deixar a baleia cortar água?, significa deixar as coisas acontecerem, seguir seu curso natural, até que uma situação favorável se apresente. Ora, sabemos que a água cobre quase três quartos da superfície do planeta Terra. Assim, apesar de toda essa água formar um único oceano, esse se divide em cinco: os oceanos Atlântico, Pacífico, Índico, Glacial Ártico e Glacial Antártico. Imagino, portanto, que, se deixarmos a baleia cortar água, essa terá muitas águas para navegar, não sendo difícil, no entanto, observá-la, pois precisa emergir para respirar. De qualquer sorte, sempre será interessante observarmos a baleia nadando, cruzando os mares, seja a cachalote, a jubarte, a branca ou outras espécies, as quais, navegando, passam uma sensação de liberdade, apesar de serem implacavelmente caçadas. Roberto Carlos, na sua canção As baleias, já alertava sobre a iminência da extinção desses cetáceos: ?Seus netos vão te perguntar em poucos anos pelas baleias que cruzavam oceanos, que eles viram em velhos livros ou nos filmes dos arquivos dos programas vespertinos de televisão?. Nos mares, vagam à procura dos cetáceos os terríveis navios baleeiros, buscando acertá-los com os mortíferos arpões, manchando de sangue o azul das águas. Contra as ações dos tripulantes desses navios luta o canadense Paul Watson, com 64 anos de idade, uma espécie de Dom Quixote das águas: não um cavaleiro andante, como o personagem de Miguel de Cervantes, mas um marinheiro navegante. Procurado pela Interpol, justamente devido a essa verdadeira odisseia, Paul Watson, com sua modesta embarcação, procura atrapalhar a caça às baleias, lutando contra os gigantes baleeiros japoneses, assim contribuindo, com sua heroica ação, para deixar a baleia cortar água...