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Nº 5759
Opinião

A incompar�vel doen�a mental

Nesses dias de desmemoriados, poucos lembram que Philipe Pinel, em meados do século XIX, psiquiatra e humanista francês, foi o responsável por profunda transformação na Psiquiatria. Até seu conhecido gesto de mandar desacorrentar os pacientes em famoso fr

Por | Edição do dia 16/05/2015 - Matéria atualizada em 16/05/2015 às 00h00

Nesses dias de desmemoriados, poucos lembram que Philipe Pinel, em meados do século XIX, psiquiatra e humanista francês, foi o responsável por profunda transformação na Psiquiatria. Até seu conhecido gesto de mandar desacorrentar os pacientes em famoso frenocômio, não era fácil sofrer de distúrbios mentais em nenhum lugar do planeta. Seria ingenuidade pensar que o ato humanitário e corajoso tenha modificado de súbito tudo que existia de exótico no manejo das doenças mentais. Com um arsenal terapêutico pouco eficaz, muitos daqueles pacientes “libertados” voltaram a experimentar o peso dos humilhantes grilhões. De qualquer forma, ficou o recado. Pinel intuiu que doentes mentais poderiam beneficiar-se com trabalhos manuais, atividades no campo, pinturas, manipulação de argila etc. Foi um dos precursores da Terapia Ocupacional, técnica complementar que teve em Nise da Silveira uma grande incentivadora. O século XIX foi particularmente pródigo em estudos detalhados da doença mental. As descrições minuciosas dos sinais e sintomas são legados preciosos. Ouso dizer que ninguém tem boa doutrina psiquiátrica se em algum momento de sua formação não tenha sido um leitor voraz de Kraepelin, Kretshmer, Jaspers, dentre outros. O grande gargalo da Psiquiatria era a pobreza de sua terapêutica. O momento que transformaria a feição dos hospitais psiquiátricos e o destino dos doentes surgiu com o eletrochoque. A reversão de quadros graves de psicoses, principalmente as depressões, foi alvissareira. Nos anos cinquenta, os neurolépticos aposentaram a lobotomia frontal, idealizada pelo português Egas Moniz, agraciado com um Prêmio Nobel pela descoberta. Depois vieram benzodiazepínicos, antidepressivos e os estabilizadores do humor. Vive-se hoje a fase dos “neurolépticos atípicos”, de menos efeitos colaterais e preços medonhos. Não obstante, a doença mental continua sendo um grande drama pessoal e familiar. Crônica desde o início, não há uma resposta benéfica uniforme. Sujeita a surtos inesperados, comparar a doença mental a outras doenças clínicas crônicas, como a diabetes e a hipertensão arterial, é de uma abissal puerilidade. Quem já soube de diabéticos e hipertensos que masturbam-se furiosamente na frente dos pais e irmãos? Tentam o coito com a própria mãe? Defecam em público? Sentem-se perseguidos pelos vizinhos? Ouvem vozes perturbadoras que empurram para o homicídio e o suicídio?

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