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Nº 5759
Opinião

Joguem seus loucos na rua

Às seis da manhã, invariavelmente, no balanço relaxante da rede companheira inseparável dos finais de semana, abro a página quatro da Gazeta para as primeiras leituras obrigatórias dos sábados: os artigos dos médicos Ronald Mendonça e Marcos David. Iden

Por | Edição do dia 19/05/2015 - Matéria atualizada em 19/05/2015 às 00h00

Às seis da manhã, invariavelmente, no balanço relaxante da rede companheira inseparável dos finais de semana, abro a página quatro da Gazeta para as primeiras leituras obrigatórias dos sábados: os artigos dos médicos Ronald Mendonça e Marcos David. Identifico-me com a abundância dos seus textos porque refletem os anseios do cotidiano, da vida comum da sociedade. Aliás, de terça a domingo, esta página de opinião é a mais democrática vitrine pela qual desfilam grandes talentos da nossa cultura, com variedade de temas escritos por especialistas de diversas atividades profissionais. Neste sábado, Dr. Ronald discorreu sobre um tema delicado, importantíssimo. Mais importante ainda pelo profundo conhecimento e autoridade que é na matéria: o doente mental. Pauta na mídia nos últimos dias pela possibilidade do fechamento da Clínica de Repouso Dr. José Lopes para o atendimento pelo Sus, inclusive convênios. Dados da Organização Mundial de Saúde apontam para quatrocentos milhões de humanos no mundo que sofrem desse transtorno, dos quais vinte e três milhões estão no Brasil. Pesquisei, mas não consegui números de Alagoas e talvez nem a própria Secretaria de Estado e Saúde tenha esses dados, porque apesar da gravidade do mal, pouco ou nada se investe diante da dimensão do problema. Cuidar de um doente mental dentro de casa, no aconchego da família, nos momentos de crise aguda, só é possível na imaginação dos teóricos, que sugerem a terapia ocupacional como mimo suficiente para controlar o surto, a agressividade, as vinte e quatro horas sem dormir, os gritos noite adentro e a força diabólica para quebrar portas e correr nu, defecado e descontrolado pelas ruas. Isso não tem trégua! Não escrevo por ouvir dizer. Não tenho preconceito em afirmar que há pelo menos cinquenta anos cuido do meu irmão mais velho, acometido de esquizofrenia desde a sua adolescência. Cuidamos, todos, com zelo, amor e afeto. Mas, existem momentos em que é humanamente impossível mantê-lo sem internamento, pois é um risco de mão dupla. Fechar hospitais psiquiátricos é um golpe contra famílias que deles dependem para continuar amando os seus filhos infelicitados pela doença mental. É uma proposta tão indecente que pode levar pais a jogarem seus loucos nas ruas.

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