O imp�rio virtuoso
Não é preciso mergulhar em estudos acadêmicos profundos, nem passar 11 meses sem dormir, como o personagem de Gabriel Garcia Márquez em Crônica de Uma Morte Anunciada, para se entender que vivemos uma época caracterizada por duas vertentes geopolíticas
Por | Edição do dia 22/05/2015 - Matéria atualizada em 22/05/2015 às 00h00
Não é preciso mergulhar em estudos acadêmicos profundos, nem passar 11 meses sem dormir, como o personagem de Gabriel Garcia Márquez em Crônica de Uma Morte Anunciada, para se entender que vivemos uma época caracterizada por duas vertentes geopolíticas centrais: o caos em abundância e grandes transformações em curso. Nessas duas tendências, encontra-se a presença indeclinável dos Estados Unidos da América. E não poderia ser de outra maneira, porque por mais de 200 anos os EUA esculpiram, minuciosamente, o exercício de potência imperialista. Em 1813, o ex-presidente John Adams dizia a Thomas Jefferson: nossa república federativa pura, virtuosa, dotada de espírito público perdurará para sempre, governará o globo, introduzirá a perfeição do homem. Daí, foi um pulo para reclamar o direito ao destino manifesto de cobrir e possuir o continente por inteiro, direito que a providência nos deu para o grande experimento... uma terra vigorosa recém-saída das mãos de Deus. Com esse messianismo, megalomania, vicejou o espírito empreendedor do capitalismo norte-americano, a natureza expansionista imperialista livre de qualquer pudor ou culpa porque abençoada pelos planos de Deus aos homens na terra. E, não por acaso, em seguida, anexou a metade do território do México. As ambições estenderam-se pela América Latina, Caribe, avançaram por todo o planeta, como mostra a História e os tempos atuais de Barack Obama, quando as guerras de Quarta Geração adicionaram a Batalha Cibernética Digital junto à força militar, cultural e midiática. A égide capitalista neoliberal, do parasitismo financeiro, gestou uma situação paradoxal. De um lado assinalou a hegemonia unipolar imperial norte-americana, das finanças globais, o Admirável Mundo Novo da sociedade do mercado que dispensa as utopias. Época de caos, violência, o tempo do nojo, guerras regionais, sociedades pantanosas, desemprego, imensas vagas migratórias errantes, tais como fantasmas vivos, por terra, ar e mar. De outro lado, surge nova realidade geopolítica multipolar que já se faz irreversível com os BRICS, a gigantesca economia da China, o repúdio à hegemonia feroz e a decaída. Mas a essa emergência devem somar-se os grandes valores universais tão caros aos povos; e a luta pelas utopias realizáveis por um mundo melhor.