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Nº 5759
Opinião

O fechamento da livraria Leonardo da Vinci

Vi, com muita tristeza, no site globo.com, a notícia do fechamento da mais antiga livraria do Rio de Janeiro, a Leonardo da Vinci. Um lugar que desde os anos 80 visitava, sempre que ia ao Rio de Janeiro. Na época, quando trabalhava no Produban e estava no

Por | Edição do dia 20/06/2015 - Matéria atualizada em 20/06/2015 às 00h00

Vi, com muita tristeza, no site globo.com, a notícia do fechamento da mais antiga livraria do Rio de Janeiro, a Leonardo da Vinci. Um lugar que desde os anos 80 visitava, sempre que ia ao Rio de Janeiro. Na época, quando trabalhava no Produban e estava no Rio, com certa frequência, no final da tarde, saía da Rua Buenos Ayres, onde era a agência, e descia a Rio Branco para ver as novidades. A proprietária, Senhora Giovanna Piraccini, ou Dona Vanna, como a tratava, recebia seus clientes com uma cordialidade quase pessoal. Havia um funcionário seu, que não lembro o nome, que sabia o lugar de cada livro. Eu pesquisava ainda sobre Da Vinci e não parava de buscar bibliografia onde podia. Em certas ocasiões, quando descobria algo novo, ligava para ela, que adorava quando falava em sua língua, gentil como sempre, revirava tudo e quando não encontrava mandava buscar na Itália. Quando o livro chegava ela simplesmente, enviava pelo correio e eu mandava pagar. Acredito que muitos clientes tinham, como eu, uma continha aberta na livraria. Fazia o depósito no banco e nem se falava em boleto ou cartão de crédito. Era na base da confiança e do amor por um bom livro. Imaginar a Leonardo da Vinci fechando suas portas é parar e perguntar em que país nós estamos. O fim da Leonardo da Vinci é também o fim de uma era onde as livrarias tinham um propósito de vender livros. Hoje, cada uma é um empório, onde se encontra de tudo e o livro é apenas um artigo qualquer. Espaço não falta à literatura estrangeira, sobretudo aos best-sellers. Depois, perdeu-se esta ligação do cliente-leitor com a livraria. A relação é muito fria, anônima e impessoal. Por isso, não é mais a qualidade que importa, mas a quantidade. Isto, sem dúvida alguma, não é o modo operacional da Leonardo da Vinci, nunca foi. O modelo de livrarias de aeroporto tem sido transferido para a urbe, sobretudo para os shoppings. Encanta pelo colorido, pela harmonia e pela quantidade, mas decepciona pela qualidade do que vende. Amarga-se pela busca vã das estantes a obras específicas quando se deseja. Embora, facilmente, se encontre uma fartura de presentes para pai enganar filho pequeno após uma viagem apressada. Livraria não é isso. Mas, são mesmo os tempos atuais, a indisponibilidade de cada um para fuçar livros, a facilidade e a impessoalidade da internet, os sites de compra, enfim, o confinamento social causado pela celeridade com que caminha a humanidade que elimina livrarias como a Leonardo da Vinci.

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