Opinião
Gen�ricos e similares

RONALD MENDONÇA * Depois de muito estudo, chegou-se à triste conclusão de que somos nós, funcionários públicos da ativa, que estamos quebrando o país. Não estamos sós: seguem-nos, não necessariamente na ordem citada, os funcionários aposentados, os pensionistas de funcionários públicos e até os que morreram frustrados porque nunca conseguiram galgar esse honroso título. Não, não pensem que estou esquecido dos aposentados do Funrural, dos que recebem um ou meio salário por serem deficientes graves, tudo indicando, portanto, de que jamais assumirão alguma atividade. Esses também estão no rolo. Com saudade, lembro que em período eleitoral - ou quando se estava na oposição - costumava-se repetir que salário não é renda (daí a imoralidade da cobrança de imposto sobre salários), que os funcionários públicos deveriam ser valorizados e que oh suprema ironia! seus proventos estavam defasados. Ainda ecoam as vozes roucas e revoltadas pelos 8 anos de um arrocho salarial sem precedente. Ou seja, antes ninguém nos acusava. No calor dos comícios, relembro, sempre havia alguém a insistir que a corrupção esta sim era um dos maiores problemas do país. Denunciava-se o enriquecimento imoral de governantes e auxiliares; falava-se em propina, intermediação de verbas... Dizia-se que o Estado perdulário transformara-se no paraíso de centenas milhares? de gente como Lalau e Silveirinhas, para ficar só nesses. Naquela época, os vilões eram as privatizações, o capital estrangeiro, o FMI, os banqueiros e os latifúndios. Esta semana, o presidente Luiz Inácio, iluminado como sempre, admitiu, com a perícia de um Hipócrates, que encontrara o país doente, permitam-me exagerar: moribundo. Febre alta, segundo ele (Septicemia? Múltipla falência dos órgãos?). O médico anterior foi dispensado. Também, depois de 8 anos teimando em prescrever o mesmo remédio sem que o paciente reagisse ao tratamento, queria o quê? Na realidade, o país trocou não só de médico, mas de enfermagem e talvez até de hospital. Quem, no entanto, esperava por uma conduta diferente, moderna, surpreendeu-se. A nova equipe optou por manter o doente apenas respirando, conservando os mesmos medicamentos do antigo médico. Comenta-se, à boca miúda, que para disfarçar está aplicando os genéricos e similares. Há quem use outra imagem e diga que o país está afundando pelo peso dos funcionários públicos. Se isso for verdade, apelo ao Divino que, em caso de lançamento compulsório ao mar, tenha a sorte do profeta do Velho Testamento e possa um dia ser resgatado, vivo e bulindo, do ventre de uma generosa baleia. (*) É MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL