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Nº 5759
Opinião

Arquivos dolorosos

A Comissão da Verdade – criada em 2011 para examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, entregou ontem ao Arquivo Nacional, mais de 100 mil documentos, entre testemunho de v

Por | Edição do dia 25/07/2015 - Matéria atualizada em 25/07/2015 às 00h00

A Comissão da Verdade – criada em 2011 para examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, entregou ontem ao Arquivo Nacional, mais de 100 mil documentos, entre testemunho de vítimas e familiares, depoimentos de agentes da repressão política e 47 mil fotografias. Os documentos passam por um processamento técnico e de digitalização e estarão progressivamente disponíveis ao público a partir de 15 de agosto, pela internet. Desde o seu início, a comissão foi motivo de polêmica e alvo de críticas, principalmente por parte de setores ligados aos militares, que chegaram a anunciar a formação de uma “comissão paralela” para rebater as eventuais acusações do grupo oficial. A iniciativa refletiu o desconforto provocado nos militares pelo que acreditam ser uma tentativa de vingança de um governo ideologicamente tendencioso e também por desconsiderar os atos violentos cometidos pelos opositores do regime que vigorou no Brasil por 21 anos, entre 1964 e 1985. O relatório final da Comissão Nacional da Verdade, entregue em dezembro do ano passado à presidente Dilma Rousseff, apontou 377 pessoas como responsáveis diretas ou indiretas pela prática de tortura e assassinatos durante a ditadura. Nesse período, cerca de 400 pessoas foram mortas ou desapareceram e milhares teriam sido torturadas – entre elas a própria Dilma. O governo brasileiro reconheceu, em 1995, que o Estado foi o responsável por assassinatos, desaparecimentos e tortura durante o regime militar, mas a Lei de Anistia de 1979 – confirmada recentemente pela Justiça – proíbe punições. Apesar das limitações e das críticas, o trabalho da comissão é positivo por ter se debruçado sobre um período conturbado da vida nacional, preenchido algumas lacunas históricas e ajudado a determinar o que aconteceu com alguns militantes e guerrilheiros ainda dados como desaparecidos. Resgatar a memória desses dias é uma forma de evitar que episódios assim se repitam na história brasileira. A ditadura já ficou no passado, mas ainda assistimos a violações de direitos humanos perpetradas cotidianamente por agentes públicos, resquícios do autoritarismo que ainda impera em parte da sociedade.

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