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Nº 5759
Opinião

Reminisc�ncias de ambulat�rio m�dico

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Por | Edição do dia 11/08/2015 - Matéria atualizada em 11/08/2015 às 00h00

Chego ao Ambulatório de Ginecologia da Santa Casa de Misericórdia, e minha atendente dirige-se a mim dizendo: dra., antes de começar a atender, a dra. Vitória (referindo-se à dra. Vitória Pontes de Miranda, mestra de Ginecologia da Ufal) precisa lhe falar. Vou ao consultório ao lado. Ouço da querida médica: “Resolva o caso deste casal, que tem uma queixa inédita, e você tem mais habilidade para resolver”. Não sei precisar a data deste fato, mas acredito ter sido nos meados de 1986. Familiares de cada cônjuge os acompanhavam. Achei o cenário estranho! Faço entrar toda “comitiva” no meu consultório. O casal tinha na faixa de 25 anos. O marido, recém-casado, em tom melancólico e trêmulo diz: “dra., casei-me há uma semana e minha esposa não é mulher. É metade homem”. Ela começou a chorar. Pedi aos demais membros da família que se retirassem. Disse aos jovens: acalmem-se! Dirijo-me a ele: Vou examinar sua esposa, mas acho que você está enganado. Ele, sempre distante da companheira, não parecia convencido. Já Irene enxugou as lágrimas e olhou-me com um ar confiante. Interrogo: O que o faz pensar assim? Ele me respondeu: “Porque a vagina dela é “tapada”, e eu acho que deve ser um órgão masculino”. Fiquei só com Irene e fiz um exame cuidadoso. Chamei a mestra ao lado, para juntas avaliarmos o caso. Tranquilizei a jovem. Encontro um caso raríssimo de Útero Didelfo, o que quer dizer dois úteros. Na verdade, tratava-se de um útero bicorno, pois o septo entre as duas cavidades (o que o marido chamava de “parede”) não era completo. Chamo o marido e digo-lhe: Sua esposa é “tão mulher” que tem dois úteros! Ele sorriu aliviado. Já ela continuou magoada com as acusações anteriores de Antonio. Solicitei exames adequados para ilustrar o diagnóstico. Seria uma intervenção simples, para retirar este septo e tornar o útero único. A cirurgia ocorreu dentro da normalidade. Meses depois, chamo a próxima paciente para o atendimento. Entram em meu consultório Irene e Antonio, ela grávida, para fazer o pré-natal. Senti-me gratificada. São interessantes as reminiscências de ambulatório médico.

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