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Nº 5759
Opinião

A cultura imaterial no contexto da mem�ria brasileira

No território da cultura é tão comum o uso desta expressão para preencher espaços que mais parece o verbo “coisar”. Tudo é cultura. Até o que não é. Afinal, a fertilidade do pensamento brasileiro, em torno do tema, cria a cada dia enlaces complicadíssimos

Por | Edição do dia 14/08/2015 - Matéria atualizada em 14/08/2015 às 00h00

No território da cultura é tão comum o uso desta expressão para preencher espaços que mais parece o verbo “coisar”. Tudo é cultura. Até o que não é. Afinal, a fertilidade do pensamento brasileiro, em torno do tema, cria a cada dia enlaces complicadíssimos no campo da práxis. A Cultura Imaterial, por exemplo, tem recebido conotações surreais no pragmatismo do fazer cultural. Num País de parcos recursos para a proteção dos bens culturais tangíveis, os programas de proteção à cultura imaterial se tornaram atraentes. E as interpretações do tema são cada vez mais escalafobéticas. Respeitando o espaço que a Cultura Imaterial possui na sociedade entre o nascer e o morrer do ser humano, há um universo precioso de memória que a cada dia se esvai. Porque o homem é a sua própria cultura. Uma cultura que recebe durante toda a sua existência e da mesma forma a transmite. Tanto faz a forma de cozinhar, como de comer, vestir-se, de tomar banho, até de urinar; afinal, o homem tem por hábito urinar em pé e a mulher sentada ou de cócoras. Todo esse modo de fazer das coisas mais simples às mais sofisticadas são partes da cultura herdada e é cultura imaterial. E não só o animal homem possui este privilégio. Chipanzés, por exemplo, aprendem a usar um graveto para colher formigas num buraco, quando não quebram coquinhos com uma pedra. O caminho até o quarto milênio deverá apagar boa parte da memória reservada a Cultura Imaterial. Até lá, o modo de falar, escrever, rezar e fazer as coisas estarão empacotados numa prateleira com uma etiqueta ou reservado a uma memória digital. Mesmo assim, muita coisa será perdida. Enquanto isso, a paisagem urbana se reveste de novos desenhos, novas tecnologias e novos habitantes. O Patrimônio Arquitetônico não conseguiu ser guardado na mesma prateleira. Feneceu antes que pudesse ser socorrido. Sob as fundações perdidas, torres de vidros são armadas. Precisamos priorizar o que queremos guardar. O tempo urge, ruidosamente, com a rapidez de um raio, enquanto tentamos descobrir o sexo dos anjos. Porque a nossa vaidade, cada vez mais, se revela nas elucubrações que produzimos para alimentar nosso ego vazio, razão pela qual um tema lúcido como a Cultura Imaterial se presta a servir de pano de fundo de um teatro vazio e sem nenhuma ressonância para ser aplaudido por fantasmas.

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