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Nº 5759
Opinião

Limites da paix�o

A maioria dos seres humanos cultiva o lado prazeroso das paixões. A vida necessita do calor das emoções e do encantamento sentimental para justificar a intensidade dos dias. Uma atração indomável aproxima as pessoas, revela a eleição dos afetos e promove

Por | Edição do dia 23/08/2015 - Matéria atualizada em 23/08/2015 às 00h00

A maioria dos seres humanos cultiva o lado prazeroso das paixões. A vida necessita do calor das emoções e do encantamento sentimental para justificar a intensidade dos dias. Uma atração indomável aproxima as pessoas, revela a eleição dos afetos e promove o avanço das horas. O clima da paixão alimenta a chama que transforma pequenos trajetos em grandiosas esperanças e simples gestos em comovedoras expectativas. O brilho desta realidade intensifica a vontade de viver e desperta os apelos do coração. A ciência penal se reporta sempre ao ensinamento de Ribot, que coloca a paixão como intermediária entre a emoção e a loucura. Kant situou de forma admirável a diferença entre a emoção e a paixão; “a emoção seria uma ebriedade, a paixão, uma moléstia”. Uma definição conhecida sobre a paixão, a caracteriza como uma agitação da alma, “o pertubatio anima” que falava Cícero, terminando por subverter o entendimento das vítimas ou dos heróis da vida. Paixão, do latim pati, significa sofrer e traduz a angústia da alma incendiada pelos ardores das afeições. As razões do universo social e do plano amoroso vivem das paixões. L’umo innamorato (o homem enamorado) definido por Francesco Alimena seria a personalidade das concepções revolucionárias diante dos romances situados acima dos erros e dos pecados. Os italianos divulgaram a expressão “tanto morir di male, quanto d’ amore”. O penalista Pedro Vergara, em sua renomada obra, comentou a noção popular de que ao amor é uma enfermidade, uma doença, um mal que mata. A destruição provocada pelas vulcânicas paixões gera caminhos perdidos e a inspiração de uma poesia sem credo. Oscar Wilde retrata esse dilema ao sentenciar que, os homens matam sempre aquilo que amam. Os valentes com a espada e os covardes com um beijo. A alma feminina torna-se surpreendente quando não consegue dominar pelo sofrimento o drama das paixões. Suas respostas e reações se revelam sempre sofisticadas e impiedosas, embora marcadas por recônditas lágrimas. Os antigos diziam que as paixões do coração humano se resumiriam no amor e ódio. O padre Antonio Vieira proclamou que esses dois afetos cegos são os dois polos em que se revolve o mundo, por isso tão mal governado. As paixões movimentam a vida, embalam esperanças e justificam os dias. A relação amorosa que parece dizer tudo, possui marcas de mistério, pelas alegrias que sugere, os desejos que realiza e os desencontros que revoltam.

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