app-icon

Baixe o nosso app Gazeta de Alagoas de graça!

Baixar
Nº 5759
Opinião

Alerta mais atual poss�vel

Já se vão mais de dois anos desde que a Petrobras, única produtora de nafta no país, denunciou o contrato de fornecimento da principal matéria-prima utilizada pela indústria química e petroquímica brasileira, alegando a necessidade de fixar preços e condi

Por | Edição do dia 02/09/2015 - Matéria atualizada em 02/09/2015 às 00h00

Já se vão mais de dois anos desde que a Petrobras, única produtora de nafta no país, denunciou o contrato de fornecimento da principal matéria-prima utilizada pela indústria química e petroquímica brasileira, alegando a necessidade de fixar preços e condições mais realistas. O fornecimento às centrais petroquímicas nacionais só não foi interrompido em razão de sucessivas prorrogações de curta duração e mediante preços em aberto, passíveis de reajuste retroativo a ser definido quando de um acordo definitivo. Assim, todo o setor permanece com uma espada sobre a cabeça e os investimentos paralisados. Algum observador menos atento às consequências desses adiamentos poderia até desculpar a demora. Mas certamente se espantaria ao perceber que muitos dos atuais desafios enfrentados pelo setor petroquímico nacional, especialmente o da falta de uma nafta competitiva, aguardam por soluções há meio século. Em caso de dúvida, basta ler o artigo intitulado “As Oportunidades Perdidas”, do falecido ex-ministro de Planejamento do governo Castello Branco, Roberto Campos, publicado na edição de 17 de outubro de 1967 do jornal O Globo. Em sua análise, Campos começa por lamentar que o Brasil, mesmo contando com a maior população e o maior mercado da América Latina, tenha perdido a liderança petroquímica regional que ostentava uma década atrás, sendo superado pela Argentina e pelo México. Na falta dele, recomenda ao Brasil seguir o exemplo do Japão, “que, ainda mais desprivilegiado que nós em petróleo e gás, conseguiu criar em poucos anos o segundo parque petroquímico do mundo”. Sucesso que o ex-ministro atribui à criação de “incentivos especiais à produção de nafta a partir de óleo cru importado”. Cabe abrir parêntesis para reconhecer que a situação do Brasil mudou radicalmente desde então no que se refere à disponibilidade de petróleo e gás. Não faz muitos anos, chegamos a anunciar nossa autossuficiência na produção de petróleo, as reservas do pré-sal começaram a ser exploradas e hoje já produzem cerca de 730 mil barris/dia, assim como cresceu a disponibilidade de gás natural. Mas nem tudo são flores nesse campo, especialmente porque a modesta expansão da capacidade de refino nacional, de apenas 4% nos últimos 10 anos, inviabilizou aumento significativo da oferta dos principais derivados de petróleo. Fechado o parêntesis, voltemos à análise de Roberto Campos. “Seria de imaginar-se um senso de urgência para cortar as amarras e acicatar os investidores ‘à la recherche du temps perdu’. Contudo, não é o que assistimos nos dias de hoje, pois a renovação temporária e de curto prazo do contrato de nafta impede qualquer planejamento de investimento de uma indústria que é, por natureza de longo prazo. Para o ex-ministro, o “imobilismo do governo” poderia resultar “em mais uma oportunidade perdida. A opção é entre discutir interminavelmente, comprometendo irremediavelmente o nosso destino petroquímico, ou convertermo-nos rapidamente no sétimo parque produtor mundial”. À exceção de termos evoluído hoje para a sexta posição no ranking global da petroquímica, o alerta segue mais atual do que nunca.

Mais matérias
desta edição