De abutres e gente
O jornalista e escritor Luís Fernando Veríssimo publicou em sua coluna de segunda-feira, 31 de agosto, um texto intitulado Insensatez sobre o assassinato de uma repórter e um câmera nos Estados Unidos por um de seus colegas demitido pela empresa à qual
Por | Edição do dia 04/09/2015 - Matéria atualizada em 04/09/2015 às 00h00
O jornalista e escritor Luís Fernando Veríssimo publicou em sua coluna de segunda-feira, 31 de agosto, um texto intitulado Insensatez sobre o assassinato de uma repórter e um câmera nos Estados Unidos por um de seus colegas demitido pela empresa à qual pertencia. Narra que o mais impressionante é que entre seu duplo homicídio, sua captura e suicídio, o criminoso teve tempo de botar na internet o vídeo que ele mesmo fez do atentado, emitir um tweet e mandar um fax justificando seu ato. Diz ainda: o assassino escreveu que Jeová mandou matar seus ex-colegas mas o que ele fez não foi em obediência a nenhum deus tradicional, foi uma oferenda à divindade moderna da comunicação global. E o que conseguiu em curto espaço de tempo, usando tantos recursos cibernéticos, foi uma trágica façanha tecnológica onde ele podia contar com a neutralidade moral da internet onde o psicopata convive com o santo, o imbecil com o gênio e ninguém é culpado. A única condição que a internet não admite (diz Luís F. Veríssimo) é o remorso. O jornalista utiliza remorso, entre outras coisas, para referir-se ao poderoso lobby dos fabricantes de armas dos EUA, com forte bancada no Congresso norte-americano, onde qualquer um pode entrar numa loja de armas e sair com uma bazuca, desde que consiga um atestado de que não é maluco, o que pelos fatos recorrentes é inútil. O óbvio é que a internet é uma grande inovação tecnológica nas comunicações, porém ela não é nem nunca foi neutra. Ao lado das possibilidades de larga resistência em que é usada, existe a grande mídia monopolista associada ao capital financeiro globalizado, viralizando nos espaços cibernéticos como bem quer e deseja, rigorosamente. Agora à mídia global cobre uma nova Primavera Árabe no Líbano. Esperamos que não banhe em sangue mais uma vez o povo libanês, como as demais Primaveras em outras paragens. A globalização não representa o bem-estar dos indivíduos ou sociedades, mas a hipocrisia, o falso moralismo, o domínio do complexo financeiro-midiático-militar do Mercado, dos interesses atávicos de abutres contra os povos. As denúncias de Julian Assange e Edward Snowden estão aí. As sistemáticas ações contra a soberania do Brasil, fartamente documentadas, fazem parte desse movimento da Nova Ordem mundial destrambelhada.