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Nº 5759
Opinião

Oce�nica gratid�o

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Por | Edição do dia 12/09/2015 - Matéria atualizada em 12/09/2015 às 00h00

Sinto gratidão por muitas pessoas, por muitos momentos que encheram de felicidade algumas horas da minha vida. Gratidão desmedida, incomensurável, por minha avó Izarele, de quem ouvi o primeiro “eu te amo”. Gratidão sem tamanho por minha mãe Lenira, ensinando-me com seu exemplo o silêncio e a resignação. Por gente que não existe mais, como Judith Alcântara, que nunca deixou faltar em meus aniversários não comemorados os seus pastéis maravilhosos; como Horácio Paulino, que me dava lições de bichos e de árvores; como Eulália Barbosa, que me encharcava de amor apenas com o seu olhar de céu; como Bráulio Oliveira, que me ouvia com atenção quando eu era somente um garoto abismado diante do mundo. Sou grato aos meus tempos de coroinha na igreja matriz de Nossa Senhora da Graça, o mistério do divino descortinando-se perante os meus olhos em meio a benditos, rezas e incensos. Aos pobrezinhos de Murici que iam à minha casa materna em busca de alimento e de atenção, mostrando-me que a dignidade de cada ser humano deve sempre ser respeitada. Repito com José Cláudio, cronista recifense: a reserva de gratidão acumulada dentro de mim “é um tanque de muitos mil litros das bondades que me têm sido feitas e que me servem de para-choques, de amortecedor das ruindades e revezes que antes de me atingirem esbarram nessa parede e chegam a mim, quando chegam, como ressonância inócua, restaurando minha fé na humanidade”. Convivi com os poetas Jorge Cooper e Carlos Moliterno, conversei com Lêdo Ivo e Djavan. Beijei a mão de Frei Damião, nas santas missões que ele pregou na minha terra, e vi bem de pertinho São João Paulo II, em sua passagem por Maceió. Tenho uma mulher por quem sou apaixonado e um filho que é a razão do meu viver. Se eu vivesse dez vidas ainda não pagaria essas dívidas de gratidão, gratidão por esses e por outros tantos que a providência divina botou no meu caminho. Há uma oceânica reserva de gratidão acumulada dentro de mim por essa gente que me fez bem, gente que não precisava de mim para nada e cujos nomes me é grato recordar. Uns me ajudaram com o seu incentivo, outros com o seu apoio decisivo. Houve até os que me defenderam sem que eu soubesse, em momentos de injustiça. Dezenas de gestos que me livraram de tropeços, centenas de palavras que me salvaram de abismos. E livros, milhares deles, que tanto têm me ensinado, desde a velha infância. Cresço com essas lembranças; tornei-me melhor (ou menos pior) por ter passado entre as pessoas pelas quais passei. É uma dádiva sem preço.

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