Opinião
O legado de Leonel

Leonel de Moura Brizola nos deixou há 11 anos, seu ideário, todavia, não. Ficamos sem seu destemor diante dos poderosos, manifesto no olhar penetrante, na voz que não hesitava, mas permanecemos fiéis ao seu legado traduzido no pragmatismo político do líder carismático, aliado a um profundo senso de justiça e identificação com os menos favorecidos. É o que consubstancia e guia o Partido Democrático Trabalhista desde a sua criação. Há singularidades na vida de Brizola que definiram o político de prestígio internacional. Ele escolheu o próprio nome, aos quatro anos, numa homenagem ao comandante maragato, Leonel da Rocha. O pai havia lutado na revolução de 1923 ao lado dos federalistas (maragatos) e foi morto pouco depois. Brizola nunca esqueceu o episódio. Esse traço da personalidade, essa determinação férrea, pontificou na História do Brasil em episódios emblemáticos liderados por ele. Foi o caso da Campanha da Legalidade, que defendeu a posse do vice-presidente João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros. Manifestações golpistas tentaram obstruir o processo democrático e Brizola partiu para o confronto, chegando, inclusive, a criar a rádio Legalidade. Os militares tomaram o poder por intermédio do golpe de 1964 e Brizola foi cassado e exilado. Com a redemocratização do País foi eleito duas vezes governador do Rio de Janeiro. No segundo mandato, as Organizações Globo iniciaram uma violenta campanha contra ele. Qualquer outro teria recuado e feito um acordo. Não Brizola. Foi à Justiça e venceu. Numa atitude inédita, o Jornal Nacional divulgou direito de resposta. O Brasil assistiu pasmo o apresentador Cid Moreira ler, em março de 1994, o comunicado escrito por Brizola. A Globo capitulou e deixou Leonel em paz. Há paralelismo entre a trajetória de Brizola e o que acontece hoje no País. O PDT mantém os princípios estabelecidos por seu líder e acompanha de perto o que é dito e escrito sobre governabilidade, crise e golpe. Sabemos que o legado brizolista tem que ser explicitado e exercido, que defender a legalidade é defender o País, que os poderosos ? como já ocorreu em outros períodos ? recorrem a artifícios para garantirem o poder a qualquer custo, até mesmo sacrificando a democracia. Talvez não tenhamos hoje um líder com o carisma e a fibra de Brizola, mas temos suas ideias.