Opinião
Banda s�

RONALD MENDONÇA * Há 3 dias, um juiz de direito e um médico, enquanto conversavam na calçada de um hospital de Maceió, foram ameaçados por dois bandidos armados de revólveres a exigir os respectivos telefones celulares. Revoltado, o magistrado confessou sua intenção de ir embora de Alagoas, por não mais tolerar esse clima de insegurança. Não é para menos. Há 2 semanas, em plena luz do dia, sua filha de 13 anos correu sérios riscos de vida, depois de baleada por assaltantes, por conta também de um telefone celular. Coincidência ou não, no último final de semana, um conhecido médico alagoano amargou o que se convencionou chamar de seqüestro relâmpago. São indescritíveis os momentos de terror por que passam as vítimas dessa modalidade de crime. Sob a mira de uma arma, o cidadão é obrigado a dirigir o automóvel, fazer retiradas em caixa eletrônico, além, é claro, de ter seus bens celulares, relógios, trancelins, pulseiras etc. arrancados impiedosamente. No caso do meu colega, nem os sapatos dispensaram. Nessas horas, escapar com vida, às vezes, exige a intuição de um diplomata. Reagir? Nem pensar. Geralmente em dupla, tudo indica que a tática de ser efetuada por casal (homem e mulher) gera menos suspeita. Essa é a nossa realidade. Evidente que continuam os roubos de carro, os assaltos de rua e todo esse endêmico rosário de lamentáveis ocorrências que estão levando a população ao desespero. Hoje, dormir em paz, enquanto os filhos não chegam em casa, é questão descartada. Sem dúvida, a criminalidade está aumentando. Rouba-se tudo, de alimentos a animais de estimação. A grande pergunta é: aonde vão parar os produtos dos roubos? O dinheiro, não é difícil saber o destino. Mas, quem usa relógios de marca famosa? Alguém imagina um morador da Chã da Jaqueira com um Rolex no pulso e um grosso cordão de ouro no pescoço? E dólares, quem os compra ? Um outro fato pontual nesses assaltos é a presença constante do revólver, cuja origem não se descobre por puro desleixo. Mais do que qualquer produto, armas de fogo são numeradas e só saem das fábricas depois de rigorosa identificação do comprador. Isso quer dizer que elas têm impressões digitais, deixam pistas, portanto. Sobrariam aí os artefatos contrabandeados, geralmente pesados, quase privativos das forças do tráfico. A sina dos produtos roubados é de retornar ao mercado. Muitos vão parar nos pescoços, punhos ou cofres de setores da banda sã da sociedade, sempre prontos a transgredir atrás de uma boquinha. São os chamados intrujões de ocasião, alguns identificados em processo criminal mas, estranhamente, não punidos. Celulares e automóveis, depois de receptados por lojas mais ou menos legalizadas, são desossados e vendidos, por partes, ao distinto público. E aí, dá pra ter esperança? (*) É MÉDICO E PROFESSOR DA UFAL