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Nº 5759
Opinião

Salgadinho (II)

VINÍCIUS MAIA NOBRE * Como é comum ainda hoje acontecer e principalmente nos tempos de domínio político dos Góes Monteiro, nada foi discutido nem debatido pela população quanto ao desvio do Riacho Salgadinho. Segundo relatos de testemunha ocular dos fato

Por | Edição do dia 06/03/2002 - Matéria atualizada em 06/03/2002 às 00h00

VINÍCIUS MAIA NOBRE * Como é comum ainda hoje acontecer e principalmente nos tempos de domínio político dos Góes Monteiro, nada foi discutido nem debatido pela população quanto ao desvio do Riacho Salgadinho. Segundo relatos de testemunha ocular dos fatos, professor Lincoln Cavalcante, afirma que num belo dia a população acordou com o barulho dos motores dos tratores e suas lâminas a cortarem a estreita faixa de terra que separava o riacho da Praia da Avenida. Foi um Deus nos acuda no meio da estudantada já habituada a promover seus protestos. Nomes como Bercelino Maia, Airton Quintiliano, José de Almeida Vilas Boas, Luiz Dória, Hélio Ramalho, Ordener Cerqueira, Rubens Canuto, Ednor Bitencourt e o próprio Lincoln, não poderão ser jamais esquecidos por aqueles que amam a natureza como ela nos é legada. Discursos veementes e olhe lá, “camisa verde” em perfeita harmonia com a esquerda comunista da época, gritando e talvez correndo da polícia de Silvestre. Num gesto tocante mas muito sugestivo, enquanto os tratores escavavam e retiravam a terra do futuro canal, aqueles bravos jovens a devolviam com pá de mão. Não teve jeito, a força do arbítrio e sem mais delongas, foram desapropriadas e demolidas as casas que ficavam na área, foi construída uma ponte na Avenida da Paz, executado o estaqueamento e elevação das alvenarias de pedra das margens do canal. Chega o inverno de 1949. Mês de maio, madrugada do dia 19, uma verdadeira tromba d’água inunda nossa Maceió. Casas desabam e famílias inteiras quando não sucumbem sob as barreiras, perdem tudo e ficam desabrigadas. Mais de cinco dezenas de pessoas perdem suas vidas. O comércio cerra suas portas no dia seguinte e só aberta ficam as das farmácias. Tudo é tristeza e desolador. O farol que ficava no topo da Ladeira da Catedral desapruma-se. Bairros inteiros foram castigados pelas chuvas e em particular a Rua Barão de Atalaia conhecida também por Entrada do Poço, foi a mais atingida pelos escorregamentos de barreiras. E o nosso Salgadinho onde andava? Acordado com aquele dilúvio, encheu-se todo como a lembrar dos pulmões dos enraivecidos jovens que desejaram impedir o seu desvio e tome água por debaixo da ponte da Avenida. Arrancou-a “pelo pé” e sacudiu seus restos lá dentro do mar! Que maravilha, muitos disseram! Os tempos passaram. O farol mudou-se para o Jacintinho, casas foram reconstruídas, executaram uma ponte com mais cuidado, a qual na atual administração foi alargada e até outra foi construída próxima à Praça do Bonfim. Fala-se que a Prefeitura vai “cimentar” (melhor seria dizer concretar) o fundo ou leito do canal para “encobrir a laminha” e diminuir a poluição. Será que existe o projeto executivo? Como serão seus detalhes? Protege as alvenarias já erodidas nas curvas externas das margens? Construir-se-ão caixas de retenção para os materiais pesados e grelhas nas três pontes para reter os flutuantes? Observa-se que estão surgindo muitas depressões por fuga de solos subjacentes à pavimentação face aos esforços das enchentes justamente em locais onde a curva é caracterizada pelo raio maior e a força centrífuga se exerce sobre as paredes de alvenaria. Pelas brechas resultantes dessas ações, escoa-se o material arenoso e em conseqüência, aparecem depressões na pavimentação recentemente executada na Av. Humberto Mendes. Afirmar que os serviços afastarão a poluição do Salgadinho é o mesmo que fingir que estão matando os coliformes fecais das praias de Pajuçara e Ponta Verde com a colocação de pequenas bombas nas saídas das galerias de águas pluviais que a elas chegam. Tudo isso vem à baila para não se dizer depois que ninguém alertou, que houve omissão e que o assunto foi debatido amplamente por todos. A sociedade, incluindo-se o cidadão da planície, deve ser informada do que se passa para não se deparar com o fato consumado. A pergunta que fica no ar é quanto ao custo da concretagem do leito e reparos nas paredes do canal. Em verdade, deseja-se é que seja executado o saneamento básico do vale do Reginaldo com ações voltadas não somente a despoluir o Salgadinho, mas dar melhor qualidade de vida aos seus habitantes. Aí então, todos nós poderemos praticar esportes e recreação diversos, saber como foram saudáveis os banhos de mar de outrora, e de sobra, tentar iludir os nossos netos induzindo-os a levar para casa uma garrafa de água azul do mar da Avenida. (*) É ENGENHEIRO

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