Opinião
Os belos olhos!

GILBERTO DE MACEDO * Nos olhos reside a poesia. Pois é fonte de amor. Belos coloridos! Belas formas! Belos significados! Olhos negros! De profundo mistério e feitiço. Que refugiam sua bela imagem no coração de quem os percebeu. Que se conservam na imaginação de quem alcançou-lhes a forma estética. Assim, existem prestes a reacender a chama da paixão originada num instante fugaz. É que os olhos negros parecem tocar mais profundamente os sentimentos românticos, como naquela célebre canção popular que se cantou durante tantos anos no passado saudoso: ?Olhos negros teus, noite sem luar. Olhos negros teus. Que escuridão!... Olhos negros teus, que me fazem chorar...? Olhos verdes de esperanças e alegria. Que tão suaves sentimentos inspirou na época mais difundida dos romantismos ingênuos. Olhos azuis, de inspiração juvenil nostálgica, de um passado de inocência pura. Dos sonhos sem pecado... Olhos castanhos de infinita mirada para os horizonte e o futuro. Em busca da realização do desejo. Enfim, olhos coloridos tantos, inspiradores da poesia. Pois não há olhos neutros, cada qual desperta a imaginação das pessoas, conforme a conotação no destino da mesma. E, ainda, quanto à forma: olhos redondos, oblíquos, ovais, horizontais, esmerados, ocidentais, orientais, indígenas. Todos encerram seus simbolismos que encanta cada qual evocando sentimentos próprios: saudosos, apaixonados, desejosos, tristes, esperançosos, de despedida... Falam a alma, de quem sabe vê-los. Atrvés deles imagina-se todo o ser de quem os possui, a aparência e a intimidade. Amam-se os olhos. Como se vê na música popular?... Meus olhos choram à falta dos teus...? Por isso, através dos tempos têm sido fonte de inspiração de artistas, de meditações de filósofos e de todos os românticos. A começar pelo padre Antônio Vieira, quando dizia: ?A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos do que pelos ouvidos?. Olha e vê mais do que pelo que ouve. É o que os olhos despertam mais a imaginação do que a simples figura física do som. Os olhos vêem mais pela imaginação. É o simbolismo dos olhos. Daí a indagação estética de Vinícius de Moraes?... e por falar em saudades, onde andam os teus olhos, que a gente não vê...? É que nos olhos está a representação da pessoa apaixonada, que o poeta vive à procura. Daí o sofrimento da ausência daqueles olhos do lamente de Paulo Mendes Campos: ?Certos olhos são vitrais/ onde dá a luz de Deus/Deus me deu os meus e os teus/ Para a dor de dar-te adeus?. Tanto que os belos olhos podem fazer da pessoa que os contempla uma nova pessoa, levada pela admiração, e até pela paixão. Veja-se a angústia do poeta Gonçalves Dias: ?...uns olhos porque morri:/ Que ai de mim! Nem já sei qual fiquei sendo/ Depois que os vi.? Dar-lhes adeus é, portanto, sofrer a dor da ausência sem esperança. E que para sobreviver há de se abrigar na poesia, como nos diz o genial Shakespeare: ?Pois há acaso no mundo escritor que nos ensine uma beleza, como Os olhos de uma mulher?? É que nos belos olhos está o feitiço que encanta e escraviza no paraíso dos sonhos. É da lição dos poetas enfeitiçados pelos belos olhos!... (*) É MÉDICO