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Nº 5759
Opinião

Lembran�as da casa onde vivi

Ali, residimos quarenta anos, desfrutando de um pedacinho do paraíso, buscando a firmeza dos nossos sonhos que progrediam através dos nossos filhos e da nossa labuta cotidiana. Um domingo, ao convidarmos familiares para conhecer a futura morada, jamais e

Por | Edição do dia 23/02/2016 - Matéria atualizada em 23/02/2016 às 00h00

Ali, residimos quarenta anos, desfrutando de um pedacinho do paraíso, buscando a firmeza dos nossos sonhos que progrediam através dos nossos filhos e da nossa labuta cotidiana. Um domingo, ao convidarmos familiares para conhecer a futura morada, jamais esquecerei o que disse papai com uma lágrima pendurada nos olhos: “Meu Deus, criar uma filha do jeito que criei para vê-la morar dentro de um mangue desses!”. Teve razões para exprimir tal pensamento. Nosso bairro era coberto de lama, um matagal imenso, um sítio deserto. Terrenos cercados de pau a pique, fruteiras nativas que se estendiam até o famoso Gogó da Ema, coqueiro deformado, que não mais existe, faleceu de solidão ou morte natural. A nossa rua, com cinco casas apenas, contava ainda com a residência do proprietário daquela extensão de terras, situada no lado oposto. Nossos filhos travessos, no vigor da sua infância, aproveitavam aquele espaço livre para brincadeiras diversas, com outras crianças que ali também residiam. Ponta Verde evoluiu como um vendaval astucioso e benéfico. As casas se transformaram em mansões, edifícios foram preenchendo os seus lugares numa ganância alvoroçada, até nos impedindo de avistar livremente a linha do horizonte, o movimento espetacular das ondas e o firmamento inteiro como se fosse um lençol sem dobras. Enfim, chegou a nossa vez na participação do sistema de permuta. E, sem medir os nossos sentimentos, passamos a ocupar um apartamento tal qual aquele que pedíamos ao Pai. Quarenta e seis dias após a nossa chegada aqui, meu esposo faleceu de um ataque cardíaco fulminante. Como nada nos pertence, devolvi resignada o companheiro de tantas primaveras, o maior responsável pelos tesouros que lançamos no mundo, os nossos dois filhos. Hoje, dezesseis de janeiro do ano em curso, comparecemos à inauguração do Edifício Evilásio Correia, que cobriu a nossa casa e dos inesquecíveis vizinhos, imprimindo o seu nome na sua majestosa fachada.

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