Mulheres sempre
MARCOS DAVI MELO * A presença da bela atriz Patrícia Pillar, esta semana, na televisão, envergando uma reluzente carequinha, foi mais uma prova do vigor feminino. A moça está se submetendo com galhardia a um tratamento de câncer de mama. O seu caso, agor
Por | Edição do dia 08/03/2002 - Matéria atualizada em 08/03/2002 às 00h00
MARCOS DAVI MELO * A presença da bela atriz Patrícia Pillar, esta semana, na televisão, envergando uma reluzente carequinha, foi mais uma prova do vigor feminino. A moça está se submetendo com galhardia a um tratamento de câncer de mama. O seu caso, agora tornado público, foi orientado e operado pelo nosso conterrâneo eminente, sediado no Rio, Marcos Moraes. É uma situação favorável, desde que diagnosticada precocemente, além de disponibilizar boa condição financeira e principalmente, contar com o apoio do seu namorado, Ciro. Realço aqui, com uma modesta, mas contínua experiência de 25 anos na especialidade, esta particularidade deste caso: o apoio público e presumo e espero, íntimo e doméstico, do seu companheiro, nesta hora difícil desta jovem mulher. Temos acompanhado neste tempo, inúmeros casos muito diferentes neste aspecto e em outros também. A grande maioria pessoas anônimas, que nem por isso desmerecem semelhante tratamento. MCL foi apenas um deles. Era uma mulher igualmente jovem e formosa. Funcionária pública, tinha também um pequeno, porém laborioso, consultório de odontologia. Vivia relativamente bem, tanto financeira, quanto maritalmente. Naquela ocasião, a maioria dos casos semelhantes ao da Patrícia era rotineiramente submetido à amputação do seio acometido. Tal procedimento médico e os complementares, a radioterapia e a quimioterapia, foram executados sem maiores problemas e com êxito. O que não ocorreu em relação a sua vida pessoal. O companheiro, mais transtornado que a paciente, diante da mutilação do seio da companheira, passou não só a evitá-la, como a rejeitá-la. Logo, o casamento se desfez e a mulher se viu abandonada e sozinha, no momento no qual mais necessitava, não só da presença do sujeito, como de seu conforto e do seu apoio. Tenho visto muitos outros casos semelhantes, no consultório e na vida. No maior do sufoco, o companheiro faltar com a sua parcela de colaboração e participação e a companheira ficar só. Infelizmente, reconheço, esta fraqueza ser mais praticada pelos homens. As mulheres usualmente, apesar de suas intrínsecas dificuldades, são não só mais responsáveis em cuidar da sua própria saúde, como em cuidar do parceiro, quando fragilizado por uma enfermidade, ou por alguma outra intempérie imprevista. Naturalmente existem as exceções. Quando há mais de dez anos cruzamos este Estado fazendo palestras de prevenção do câncer para a comunidade mais desfavorecida quando isto era uma raridade de museu inglês em vários municípios do interior, o principal parceiro e o mais fiel e engajado, não foi outro senão o Conselho Estadual de Defesa da Mulher (Cedim); naquela ocasião capitaneado por Wedna Miranda, hoje ainda na frente de batalha, na trincheira do Procon. Temos todos, portanto, muitas razões, afetivas e vivenciais, não expostas aqui, para neste dia dedicado às mulheres não concordar totalmente com o poetinha Vinícius de Moraes, para quem só a beleza seria fundamental. Há de se admirar e respeitar nestas criaturas outras qualidades. E não só a paciência em nos tolerarem, como a possibilidade de se doarem, se envolverem, tentando solucionar os infortúnios nossos e dos parentes e amigos e em muitos casos dos estranhos. A potencialidade de solidariedade esta virtude tão peregrina que possuem e utilizam perdulariamente, é um apanágio feminino. Portanto, companheiros engajados no cordão do feminismo; certo estava Imre Radach quando afirmava: A mulher deve ter um só altar,/ que nunca fica velho: o coração. E, ao final, não nos restará melhor opção de que a determinação de Alexandre Dumas, pai, em Os Moicanos de Paris. Simplesmente afirma: Buscai a mulher. Façamos isto e as beijemos todas com fervor, e salve as mulheres! Salve, hoje e sempre. (*) É MÉDICO