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A fome e a mis�ria

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DOM JOSÉ CARLOS MELO, CM* Gostaria de tratar de uma questão social abordada na 49ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no mês de abril do ano 2002, em Itaici-SP. Oficialmente, foi lançada uma campanha nacional denominada “Mutirão Nacional para a Superação da Miséria e da Fome”. Este assunto é muito delicado e comprometedor, uma vez que, na cultura do nosso povo nordestino, surge a errônea mentalidade de que somos pobres e passamos necessidades porque Deus quer. Porém, temos consciência de que toda situação política, econômica e social enfrentada no nosso País é fruto de uma distribuição de renda injusta e deficiente e de uma falta de estrutura adequada visando ao bem comum da sociedade. Em outras palavras, trata-se de um problema de justiça social. O alimento é, sem dúvida, dom de Deus e direito de todos. Lamentavelmente, constatamos em nossa história a indústria da seca, a indústria da perfuração de poços, a indústria dos canais de irrigação e, agora, a indústria da fome e da miséria. Muitas vezes, elas servem de estandarte para muitos salvadores da pátria, sobretudo em momentos de campanhas eleitorais, deixando para trás a solução dos problemas vitais do nosso povo. A Igreja de Maceió, procurando colocar-se a serviço desta causa, constituiu uma Comissão Arquidiocesana do Mutirão Nacional para superar a Fome e a Miséria. Terá como objetivo promover e articular um trabalho de conscientização e mobilização visando ao engajamento de toda sociedade e comunidade cristã na superação das causas geradoras da fome e da miséria. Ao mesmo tempo, sem desvio para um paternalismo e um assistencialismo que levam à dependência, deverá também promover os recursos para o atendimento imediato da fome do povo que não pode esperar. Em outras palavras, trata-se de uma situação a curto e a longo prazo. Em tudo, porém, é necessário garantir a dignidade da pessoa humana, que tem um ideal de conquista na caminhada da vida que não pode ser frustada. Com efeito, a primeira vocação do homem é para a vida na condição de filho de Deus, como nos lembra o tema do Ano Vocacional. Esta dignidade da pessoa humana é altamente valorizada e enobrecida na pessoa de Jesus Cristo, Deus e Homem, que veio para que o homem tenha vida, e a tenha em abundância. Para Jesus Cristo, a maior atitude do homem deve brotar da justiça e do amor, quando somos capazes de viver em comunhão e nos transformar pelas atitudes de solidariedade, benevolência e partilha. Compadecendo-se diante das multidões famintas, Jesus antes mesmo de recorrer ao seu poder divino de multiplicar os pães, nos diz hoje: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6, 37). É, pois, na práxis de Jesus que encontramos a inspiração e motivação para o nosso procedimento no mutirão para superar a fome e a miséria. Na realização dos seus objetivos, a Comissão Arquidiocesana definirá suas atividades, elaborará um plano de ação e procurará o apoio e as necessárias parcerias. De modo particular, a Pastoral da Criança constituirá o ponto de partida e deverá ser implantada em todas as paróquias e comunidades. Com grande esperança e segundo a Escritura Sagrada, aflora ao meu coração de Pastor esta súplica: “Senhor, dai pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão!”. (*) É ARCEBISPO METROPOLITANO DE MACEIÓ.

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