loading-icon
MIX 98.3
NO AR | MACEIÓ

Mix FM

98.3
domingo, 23/03/2025 | Ano | Nº 5929
Maceió, AL
25° Tempo
Home > Opinião

Opinião

S� paisagem

Ouvir
Compartilhar
Compartilhar no Facebook Compartilhar no Twitter Compartilhar no Whatsapp

MARCOS DAVI MELO * Dizia Dante Milano que, além da mulher, o que existia era a paisagem. Embora na paisagem possa existir muita coisa, principalmente se a mulher prepondera, como no carnaval pernambucano, para onde mais uma vez nos dirigimos à procura das peculiaridades que o tornam tão especial. O Galo da Madrugada foi novamente suntuoso, mas sem cabotinismos, lembramos o seu pequeno afilhado – o Pinto da Madrugada – mesmo porque muitos eram os alagoanos ali presentes, que com o boné e a camiseta do Pinto, mesmo na grandiosidade pernambucana, evocavam com saudade o galináceo conterrâneo. Nos seus 26 anos de vida, só agora o Galo fez a sua primeira prévia. O Pinto, em três anos, já fez sete: um batizado, três aniversários, dois mungunzás e um reveillon napraia. Dos trinta trios elétricos que desfilaram no Galo, uns 10 (33%) entraram na Rua da Concórdia tocando axé music, o que deve ter contrariado muito o seu Enéias. No Pinto, só o frevo e as eternas marchinhas do cancioneiro carnavalesco clássico. Alguns companheiros mais saudosos ainda afirmavam que o nosso trajeto é insuperável. Incontestável. A Pajuçara e a Ponta Verde são incomparavelmente mais bonitas, agradáveis e mais arejadas que o centro do Recife. A hora também nos é mais favorável. Por sermos infinitamente menores, saímos mais cedo (às 9 e eles às 10h) e encerramos também mais cedo. Nós às 14 e eles às 18 horas. Foram estas poucas e questionáveis vantagens, no conjunto o carnaval pernambucano é incomparável. No Recife antigo existe opção para todos os gostos. Quem quiser só assistir às apresentações dos artistas nos grandes palcos do Marco Zero e do Arsenal da Marinha, estará com farta oferta que começa às 18 horas e vara a madrugada. Quem quiser ficar no barzinho sentado, verá inúmeras troças, blocos e maracatus desfilando no mesmo período. Os mais inquietos acompanham um bloco até que venha outro e outro e outro... Olinda voltou a abrigar os seus foliões e blocos mais tradicionais – como o Eu Acho é Pouco, reduto de professores universitários eprofissionais liberais insurgentes na época da Ditadura — que a tinham abandonado pelo Recife antigo. Aprefeita Luciana Santos teve a coragem de manter a proibição à musica mecânica nos imóveis do sítio histórico, oque impedia a evolução dos blocos e dos foliões. As fantasias criativas e irreverentes, uma de suas marcas, voltaram a circular em suas ladeiras. O carnaval maurício fez a sua opção pelo investimento no valor de suas tradições culturais e tem dado muito certo. As crianças nas ruas cantam as canções de Capiba e Nelson Ferreira. Vestem camisas e usam chapéus com a bandeira de Pernambuco. Mesmo que hoje, só nos restem as lembranças, elas formam na memória uma paisagem enternecedoramente feminina. Foram mais uma vez momentos de emoção, de alegria e de valorização da legítima cultura popular nordestina. (*) É MÉDICO

Relacionadas