Opinião
UM MICT�RIO QUE MUDOU A HIST�RIA DA ARTE

Como pode a inclusão de um mictório numa exposição, em 1917, mudar o rumo da História da Arte? O autor dessa façanha se chama Marcel Duchamp, poeta, escultor e pintor francês, radicado nos EUA a partir de 1955. Para melhor compreensão da paisagem social do período, é preciso lembrar que a virada do século trazia consigo uma série de conflitos, inclusive a Primeira Guerra Mundial, assim como a revolução bolchevique e, apesar do cenário, a sensação era de pleno futuro. O passado havia terminado em 1900 e a profusão de novidades tecnológicas, sobretudo a energia elétrica, contribuíam para uma verdadeira onda modernista. Uma aventura vivida na terra com automóveis e nos céus pelos aviões. As artes visuais, a arquitetura, a dança, a música e a moda agora tinham caminhos diferentes. Havia uma polaridade entre o antigo (conservadorismo) e o novo (moderno). Nessa linha, o conservador adota o ecletismo na arquitetura, via historicismo, na moda o estilo vitoriano vai sumindo e as damas mais recatadas não aderem La Jupe Culotte. Na música e na dança, é a época de Nijinski e Isadora Ducan que corre em paralelo com o romantismo de Debussy e com as óperas de Verdi e os balés de Tchaikovsky. Porém, nas artes seguem-se as obras das academias, geralmente ao gosto burguês, e o modernismo fica por conta do movimento Impressionista, embora com origem figurativista. No entanto, é preciso dizer que houve uma verdadeira revolução a partir da chamada Arte Nouveau, que, mesmo tendo surgido no fim do século XIX, introduziu uma assimetria particular do período barroco, em linhas e contornos de uma obra midiática para cartazes e rótulos, onde se destaca o artista Alfonso Mucha, que são ainda hoje, verdadeiras obras-primas. Mas o Art Nouveau adentrou noutras representações, como a arquitetura, a moda, cutelaria, objetos de decoração, vitrais a joalheria, tomando conta dos primeiros anos do século XX. Nesta mesma tendência seguia o impressionista Toulouse Loutrec, com seus cartazes das noites parisienses. Assim como Klimt, que foi outro a inovar com uma obra arrojadíssima, figurativa, mas com deformações propositais plenas de um gosto romântico do qual se reportava toda a arte e arquitetura que atendia aos novos ricos de então. A chamada Belle Epoque que havia iniciado em 1871 e foi até o início da Primeira Guerra, era todo o esplendor do fim do século XIX, que se estendia ardentemente como uma recusa aos novos tempos. As artes estavam a serviço de uma sociedade tradicional, conservadora e rica que podia dominar e impedir os avanços do modernismo na Europa capitalista que construía sua própria arte de consumo, investindo em artistas criando um negócio lucrativo e representativo na sociedade.