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PIABA

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Piaba é uma cadela que vive nas ruas de Anadia, especialmente no entorno da Praça Dr. Campelo de Almeida, no centro da cidade, onde gosta de se abrigar do sol nas marquises das lojas e à sombra do pequeno coreto. Embora sendo uma vira-latas legítima, é de porte grande e possui a elegância típica dos cães de raça, com o pelo marrom e os olhos amendoados cheios de ternura e simpatia. Muitos já tentaram levá-la para a própria casa, dando-lhe um lar e uma família para chamar de sua, mas logo ela voltou para a liberdade da ventania e do sereno, para as calçadas onde não se sente propriedade de ninguém, e sim a companheira tranquila de quantos dela se aproximam e lhe brindam com um pouco de carinho e de atenção. Piaba gosta mesmo é de gente, da companhia das pessoas, de vozes e de multidão. Não perde um enterro em Anadia: sempre que morre alguém, não se sabe como ela logo descobre e fica por ali, na frente do local do velório ? se permitirem, ela entra na sala e se deita ao lado do caixão ? e acompanha o féretro até o cemitério, silenciosa e comportada. Nas festas, dá-se o mesmo; ela vai se achegando e se esparrama aos pés do primeiro grupo que lhe chama pelo nome ou lhe faz algum afago, permanecendo em sua companhia até que os componentes se dispersem. Nunca passa fome nem sede, pois sempre há quem lhe jogue um pedaço de pão ou um naco de carne e lhe ofereça uma tigela de água fresca. Ninguém sabe ao certo há quanto tempo ela está por ali, mas o fato é que todos, anadienses e visitantes, já se acostumaram à sua presença e sentem a sua falta quando não a veem. Piaba é patrimônio de Anadia, tal como a Serra da Morena e os doces abacaxis do Pivête; está incorporada à paisagem urbana da velha cidade com mais de 200 anos, misturada ao povo bom e devoto de Nossa Senhora da Piedade. Ir a Anadia e não ver Piaba é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa, como diria Didi Paulino, exímio dançador de forró e conhecedor de rezas fortes que fecham o corpo de qualquer cristão. Graciliano Ramos fez de Baleia um dos grandes personagens do seu tocante ?Vidas Secas?. Assim como a cadela mais famosa da literatura brasileira, Piaba parece entender perfeitamente o que se passa à sua volta. Ouve, presta atenção, levanta as orelhas e abana a cauda. Hão de me chamar de exagerado, mas o seu olhar transmite uma certa força ancestral que lhe confere a condição de um animal realmente diferenciado. A natureza foi pródiga ao lhe dar o sopro vital. Quando ela deixar de perambular, altiva e independente, pelas ruas de paralelepípedos de Anadia, muito se perderá do encanto daquelas esquinas seculares.

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