Se todos...

DOM FERNANDO IÓRIO * Ninguém pode furtar-se ao menor dos compromissos. O compromisso, menor que seja, é algo quase sagrado. Ante o compromisso, pessoa alguma pode sentir-se escusada. A pedra de cada um é indispensável à construção do edifício. A colaboração individual é necessária à vitória e ao triunfo da comunidade em que vivemos. O resto é descaminho, é desacordo, é descompasso. Permita-se-me refletir: por acaso, recusassem os pés ser pés, bem assim os olhos e os ouvidos, da mesma sorte o gosto e o olfato... Que seria do ser humano, a caminho? Conta-se que existia pequeno vilarejo, nos alpes italianos, todo dedicado ao cultivo de uvas para a produção do vinho. Para comemorar o sucesso da colheita, ocorria, anualmente, fascinante festividade. Exigia a tradição que, por ocasião dos festejos, trouxesse cada morador do vilarejo uma garrafa de seu melhor vinho para colocar no imenso barril colocado na praça central. Pensou, então, um dos moradores: ?Por que deverei eu levar uma garrafa do meu melhor vinho? Levarei uma de água, vez que no meio de tanto vinho o meu não fará falta?. Assim pensou, do mesmo modo o fez. No auge das comemorações, como era de costume, todos se reuniam na praça, cada um com sua vasilha para sorver uma porção do precioso vinho, cuja fama se estendia, além das fronteiras da região e do próprio país. Qual não foi a surpresa, ao abrir-se a torneira do imenso barril, dele saiu, apenas, água. O silêncio tomou conta da multidão, deixando desolados os promotores da festa. É que todos pensaram como aquele morador: a ausência de meu vinho não fará falta, vou colocar água. Podemos ser levados a pensar: tantas pessoas neste mundo que, se eu não fizer a minha parte, tudo vai correr bem. Que poderá acontecer com nossa sociedade se todos se escusarem, se todos pensarem em não fazer a parte que lhes é devida? Melhora-se a sociedade não fazendo o que se quer, senão o que se deve, sem recusa, nem escusa. (*) É BISPO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS