Opinião
Violência em casa

Dados levantados pela Pesquisa Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, apresentada ontem pela representação da ONU no Brasil, mostram que, nos estados do Nordeste, 27% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos já foram vítimas da violência doméstica praticada por maridos, companheiros ou namorados. Um aspecto que chama a atenção na pesquisa é o fato de que entre as mulheres brancas com nível de educação superior, o percentual de vítimas é dez vezes menor do que entre as negras sem instrução. Isso deixa clara a desigualdade social e racial entre as mulheres que sofrem a violência Outra constatação da pesquisa foi a transmissão da violência doméstica entre as gerações. Os números mostram que, nos nove estados nordestinos, 88% das mulheres souberam que suas mães foram agredidas. E quatro em cada dez também se tornaram vítimas dessa mesma violência. Outro dado alarmante é o da exposição das crianças à violência doméstica: 55% das mulheres agredidas disseram que as agressões se deram na frente dos filhos. Para especialistas, na idade adulta, esses filhos vão reproduzir o que viram: os meninos vão acreditar que a violência é uma solução e as meninas vão aceitar a violência como uma realidade que não podem evitar. Segundo a coordenação da pesquisa, um dos dados mais chocantes foi o das agressões sofridas pelas mulheres gestantes: 7% das mulheres agredidas durante a gestação têm entre 15 e 24 anos e o agressor não leva em conta o estágio da gravidez. A violência doméstica não é exclusividade do Brasil e tem vários impactos, inclusive o econômico, pois afeta a renda das trabalhadoras. Alguns programas implementados nos últimos anos ? como o Bolsa Família, o microcrédito e a Lei Maria da Penha ? têm ajudado a combater esse problema, ao dar mais autonomia às mulheres, mas ainda são insuficientes. É preciso punir os responsáveis e criar uma rede de proteção para amparar as vítimas de todas as formas, mas também é fundamental promover uma mudança de mentalidade. Para isso, deve-se investir em políticas públicas, principalmente por meio da educação, para criar uma cultura de paz, respeito e tolerância. Só assim a violência passe a ser uma exceção distante.